Entrevista com Fátima Araújo - Jornalista da RTP

Clube Entrevista Fátima Araújo

Entrevista com Fátima Araújo - Jornalista da RTP



      Foto do fotojornalista Bruno Peres

Fátima Araújo natural de Santa Maria da Feira, jornalista da RTP é a nossa convidada do mês de maio. Os limites desta conversa estão definidos entre a infância feliz e a sua real paixão pela profissão. Não gosta de incógnitas na sua vida, prefere soluções possíveis e determinadas construídas pelo empenho e qualidade que impõe diariamente no seu trabalho. Em horário nobre está sempre a RTP onde tem a função de ser uma das caras de excelência da televisão pública. Esta é a geometria da entrevista com Fátima Araújo que vai direto a si nesta fatorização...


Nasceu em Santa Maria da Feira. Quer-nos “apresentar” a sua infância? 
 
Foi uma infância muito feliz e na companhia de muitas crianças (primos, vizinhos e crianças do infantário), com muitas brincadeiras e incidentes típicos da curiosidade infantil à mistura! Frequentei o infantário da quinta do castelo de Santa Maria da Feira, onde tínhamos hectares infindáveis de jardins, descampados, floresta, pomares e campos de futebol, para além do próprio castelo, para brincar! Lembro-me que eu gostava particularmente dum caminho da quinta que tinha avelãzeiras de ambos os lados do caminho e eu deliciava-me a ver coelhos e esquilos de volta das avelãs, quando eu própria não conseguia trincá-las! 
De resto, a minha infância foi muito recheada de campo e ruralidade, também porque os meus avós eram agricultores e passavam o ano inteiro no cultivo. Eu, os meus primos e as crianças da vizinhança participávamos nas sementeiras, com o gado a puxar os arados, participávamos nas vindimas, divertíamo-nos imenso quando a aldeia inteira se juntava em casa dos meus avós nas desfolhadas, competíamos para sermos os primeiros a encontrar a espiga de milho vermelho (o chamado “rei”), jogávamos às escondidas e escondíamo-nos nas gigantescas caixas de madeira de milho e nos baús de roupas antigas! 
Todo esse divertimento e algazarra terminava, por vezes, nas urgências! A minha curiosidade era muita e, um dia, meti a mão num alguidar de rolhas com água a ferver que o meu avô estava a usar para engarrafar vinho! Queria apanhar uma rolha, mas queimei a mão. Doutra vez, parti uma garrafa e tive de levar pontos na mão direita! Outra vez, escorreguei dentro do lagar onde eu, os meus primos e o meu avô pisávamos as uvas e magoei-me… Enfim, muitas histórias, todas elas repletas de muitíssimo boas e felizes recordações!

Que notícias guarda com 10 anos de idade na escola?
Não me lembro de notícias que eu tenha retido aos 10 anos! Talvez por não terem sido demasiado chamativas ou marcantes para eu reter. Ou talvez porque, nessa idade, eu era ainda muito desligada do mundo das notícias! A única notícia que recordo ter-me marcado foi, aos 7 anos, a do nascimento do meu irmão. O meu pai chegou a casa, disse que o mano já tinha nascido e eu fiquei muito zangada com o meu pai porque ele tinha-me prometido levar ao hospital no dia do nascimento e não levou. Isso deixou-me arreliada e muito, muito enciumada!

A Matemática na escola via-a em que canal? Dava que tipo de reportagem?
Na escola primária, não tenho memória da Matemática, até porque sempre fui uma excelente aluna e não me ocorre ter tido qualquer género de dificuldade na primária. As coisas complicaram-se, no entanto, quando entrei para o ensino preparatório. A partir do 5º e 6º anos, comecei a sentir muitas dificuldades e a tirar negativas a Matemática. Aliás, nessa altura, havia o ensino à distância, através da chamada “telescola” (em que as aulas das diferentes disciplinas passavam na televisão, na RTP 1) e eu não tinha paciência para acompanhar as aulas de Matemática. A Matemática fazia-me sentir diminuída e eu sabia que tinha muito valor como aluna, pelo que não tolerava os números, as equações, as fórmulas e tudo o resto. Julgo que também não me ajudou o facto de ter tido professores de Matemática que nunca me cativaram e que não souberam fazer-me gostar da Matemática.
Um momento em que a Matemática na escola tenha sido primeira página...
Não me lembro! Mas lembro-me que, quando cheguei ao fim do 9º ano, fiz questão de “noticiar” bem alto, junto dos meus colegas de escola e de alguns professores, que finalmente ia livrar-me da Matemática, porque iria seguir Humanidades, a partir do 10º ano! Foi um alívio! Porque sempre tive excelentes notas nas outras disciplinas e a Matemática sempre foi uma nódoa no meu curriculum!! 

O poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare
 referiu que ”deixei de gostar da Matemática, depois que “x” deixou de ser sinal de multiplicação”. Um comentário?
Para mim, o “x” não passa duma incógnita. E como não gosto de incógnitas na vida e como tenho medo das incógnitas, talvez resida nisso a minha inabilidade para lidar com os “x” matemáticos, ao longo dos anos!

É licenciada em Jornalismo. Qual a importância desta formação na sua vida? 
A minha formação em Jornalismo e Comunicação (primeiro, por via da Licenciatura, depois por via de Pós-Graduação e Mestrado) serviu para complementar a experiência que eu trazia do terreno, desde jovem. Comecei a fazer rádio aos 14 anos, nas chamadas rádios piratas, e foi aí que nasceu o meu interesse e aptidão para o mundo do Jornalismo e da Comunicação. Os cursos universitários serviram de ferramentas sistematizadas, ferramentas de análise e reflexão daquilo que eu já vinha fazendo na prática. A passagem pela Universidade ajudou, sobretudo, a fazer-me questionar sobre as coisas, a reflectir sobre os porquês e a estar mais atenta ao mundo que me rodeia. 

 
Desde quando e como surgiu a paixão pela televisão?
Quando estudava, nunca tinha sentido apelo pela televisão, porque a minha experiência e a minha paixão vinham da rádio, o meio em que eu trabalhava desde os 14 anos. O interesse pela televisão surgiu quando acabei a Licenciatura em Jornalismo e fiz o estágio curricular na RTP de Lisboa. Aí, comecei a perceber o funcionamento da televisão, comecei a fazer reportagens televisivas e nasceu alguma apetência para a televisão. Não lhe chamo paixão pela televisão, porque não me sinto apaixonada pela televisão (ao contrário da rádio, que me apaixonou e pela qual morro de saudades). Chamo-lhe antes (ao meu ingresso na televisão) uma feliz coincidência no meu percurso profissional.

A televisão é o seu canal 1 porque…
Porque aconteceu… E porque batalhei muito para merecer estar onde estou. Como digo, começou por ser uma sucessão de felizes coincidências: primeiro, o estágio na RTP;  depois a possibilidade de ficar a trabalhar na RTP a recibos verdes; depois o aparecimento da NTV (para a qual fiz castings e fui seleccionada); depois a compra da NTV pela RTP (sendo que a NTV passou a chamar-se RTP Informação); e, daí até hoje, a acumulação do meu trabalho na RTP e na RTP Informação. Ao longo de todo esse processo e de todos estes anos, esforcei-me muito, dediquei-me muito, empenhei-me muito e dei muitas provas de que merecei o meu lugar na televisão. E cá estou eu!

As sondagens e as estatísticas como são trabalhadas pelos jornalistas?
São trabalhadas em função daquilo que as empresas de sondagens e estatísticas fornecem aos jornalistas. Não somos nós, os jornalistas, que fazemos as sondagens e as estatísticas. Essa informação já vem compilada de agências especializadas ou de organismos especializados e os jornalistas limitam-se a interpretar os dados e a divulgá-los. 

É também professora de jornalismo no IESF. Como define essa  experiência?
É maravilhoso partilhar com jovens e adultos experiências, conhecimentos, pontos de vista e reflexões sobre o que nos rodeio. Até porque também aprendo muito a ensinar. Adoro leccionar! E acredito que os meus alunos também gostam da forma como lecciono, das aulas que dou e da componente prática, de análise e comentário de casos práticos que levo para as aulas. Pelo menos, ao longo destes 5 anos, o feedback que tenho tido dos meus alunos é muito positivo!

Ensinar e aprender pode ser…
Uma descoberta infindável e um estímulo para nos descobrirmos e superarmos a nós próprios!

A RTP é...
A RTP mais do que as pessoas vêem… É património do país, é legado histórico, é um referencial na informação nacional, é serviço público, é fruto do empenho e do trabalho de centenas de pessoas dedicadas à casa e à causa. A RTP é também a minha casa. É onde passo mais horas dos meus dias, é onde sofro tristezas, é onde partilho alegrias, é o meu ganha pão, é grande parte da minha vida. É um desafio superado e é, também, alguns sonhos por cumprir. É a minha metade e o meu todo! A RTP é uma equação incompleta, mas que terá sempre um valor infinito. 


Por Carlos Marinho
 
Publicado/editado: 30/04/2013