Entrevistado de julho de 2013 - o aluno Miguel Santos

Clube Entrevista Fátima Araújo

Entrevista com Miguel Santos - o aluno português mais medalhado de sempre das OPM e IMO


 
 



Miguel Santos, aluno do 12º ano da Escola Secundária de Alcanena é o convidado do clube spm de julho de 2013. Recordista de medalhas de ouro nas Olimpíadas Portuguesas de Matemática, com nada mais nada menos, que 5 medalhas, última das quais conquistada em 17 de março de 2013, no sul do país, em Albufeira (ver notícia clube spm). A nível internacional Miguel Santos tem confirmado a tese de ser um aluno de ouro...em 3 participações de 2010 a 2012, conquistou 2 medalhas de ouro  (na Argentina, Mar del Plata em 2012 e Amsterdão, na Holanda - 2011) e uma menção honrosa (em 2010). De 18 a 28 de julho irá lutar por mais uma participação brilhante em Santa Marta, na Colômbia. Fica aqui uma entrevista de equação simples onde se percebe que o seu  futuro não será uma incógnita ou problema, mas que terá uma solução possível e determinada pela matemática. A resolução desta entrevista tem a seguinte solução do Miguel Santos... 


O que nos podes contar da tua infância?
R: Na minha infância jogava computador, lia livros e via televisão. Gostava de dias em que tivesse oportunidade de estar com a família. Não há muito mais a dizer.
 
Como eras aos 10 anos de idade na escola?
Distraído (principalmente com os trabalhos de casa). Conseguia perceber bem as matérias, e fixar coisas, mas ficava aborrecido facilmente.
 
Quando sentiste que a matemática era a tua disciplina preferida?
Desde que entrei no ensino, no 1º ano de escolaridade. Na altura gostava de fazer contas; apesar de isso não ser fundamental para a Matemática, eventualmente fui gostando da Matemática que ia aprendendo, até chegar à Matemática “a sério” (em termos de rigor e criatividade), que descobri no Projecto Delfos.
 
Destaca um momento mágico numa aula de matemática.
Houve um momento numa palestra na “International Summer School of Mathematics for Young Students”, no Verão passado, dada pelo professor John H. Conway, que me marcou bastante. Nessa palestra, deu para ver como algumas das suas ideias permitem desafiar algumas noções que se tinham sobre computação e complexidade, de forma simples e quase natural; tão natural até, que comecei a pensar que mudar a percepção de certas coisas na Matemática talvez fosse mais acessível do que parecia.
 
A tua mãe que é professora de matemática teve alguma influência na dedicação que tens pela matemática?
A minha mãe sempre me ajudou e sempre me apoiou, mas acredito que teria a mesma dedicação à Matemática mesmo que ela não fosse professora de Matemática; tal como a minha mãe me daria o mesmo apoio se eu me dedicasse a outra área do conhecimento, ou até ao Atletismo ou à Música.


 

Como vês o trabalho do professor de matemática em Portugal?
Ingrato. Ao longo do seu curso, o professor de Matemática é exposto a um “mundo à parte”: Matemática interessante, vista de forma rigorosa. No entanto, não consegue mostrar este mundo aos seus alunos, por quatro grandes motivos: eles não têm bases dos anos lectivos anteriores, os alunos têm uma grande diversidade de velocidades de aprendizagem, os alunos não percebem o interesse, e o programa não ajuda. Enquanto o programa não for melhorado, bem como o nível de exigência no ensino da Matemática, os professores de Matemática continuarão a ter grandes dificuldades em comunicar o interesse da Matemática.
 
Em julho vais tentar ganhar mais uma medalha de ouro para Portugal. Como estás a preparar o evento?
R: Resolvendo problemas, pensando naquilo que tenho a melhorar. Tudo isso feito com os colegas de equipa das Olimpíadas Internacionais de Matemática, sempre com alguma competição amigável entre nós.


 

Como é feita a preparação e qual o papel dos professores em todo o processo?
R: Em geral, os professores que acompanham o processo de preparação para as Olimpíadas Internacionais, quer estejam mais ligados ao Projecto Delfos ou à SPM, assumem uma postura relaxada. Enquanto olímpicos, é-nos dada muita liberdade, o que nos permite aprender e evoluir de forma extremamente natural.
 
Para o ano vais para a universidade. Qual e o que vais estudar?
Vou estudar Matemática. Se tudo correr como esperado, vou tirar a Licenciatura em Matemática Aplicada e Computação, no Instituto Superior Técnico.


 

Daqui a 5 anos o que te vês a fazer inserido no mundo do trabalho?
Não me vejo inserido no mundo do trabalho; nessa altura pretendo estar a pensar em tirar o doutoramento, possivelmente no estrangeiro.
 
Suponhamos que...uma empresa com visão no futuro te queria contratar agora para trabalhares só daqui a 5 anos, após terminares o teu curso. A tua resposta seria...
Não. Acho que não seria prudente da minha parte assumir compromissos tão cedo, para daqui a tanto tempo. Para além disso, não pretendo trabalhar numa empresa como carreira, mas sim seguir a via académica.
 
Que conteúdos te fascinam no mundo da matemática?
Praticamente todos. Alguns, como a Álgebra Abstracta ou a Teoria dos Números atraem-me pela elegância e pelos métodos utilizados. Outros repelem-me à primeira vista, mas um olhar mais aprofundado revela a sua beleza (isto acontece constantemente com a Combinatória, com a qual tenho uma relação de amor-ódio). Todas as áreas da Matemática Pura são fascinantes, com a motivação certa.
 
Afinal de contas, qual é o limite superior do Miguel Santos para com a matemática?
Eu gostaria de estudar Matemática tanto quanto possa, a fim de poder trabalhar em investigação e dar aulas.


Por Carlos Marinho
Publicado/editado: 30/06/2013