(U)Ma Temática Elementar por José C. Santos

Eixos de Opinião fevereiro de 2014

 


A Matemática elementar tem muito que se lhe diga. Embora nos seja familiar, é sempre possível encará-la de um ponto de vista novo ou inesperado.              

José Carlos Santos - Departamento de Matemática da FCUP     


Dia 21 de cada mês

                 


Artigo José Carlos Santos em (U)Ma Temática Elementar

Artigo de fevereiro de 2014

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Título: O algoritmo de Euclides


O máximo divisor comum de dois números naturais m e n é, como o nome indica, o maior número que é divisor tanto de m como de n. Se, por exemplo, os números em questão são 33 e 15, então, como os divisores de 33 são 1, 3, 11 e 33 e como os divisores de 15 são 1, 3, 5 e 15, os únicos números que dividem tanto 33 como 15 são 1 e 3 e o maior destes é 3. O máximo divisor comum de m e n representa-se geralmente por (m,n) e viu-se então que (33,15) = 3.

Calcular o máximo divisor comum de dois números por este processo torna-se rapidamente muito moroso. Existe um método de cálculo, o algoritmo de Euclides, que é muito mais eficiente para encontrar o máximo divisor comum de dois números naturais. Funciona assim: divide-se m por n, obtendo-se um quociente q1 e um resto r1, que é necessariamente menor que n. Em seguida recomeça-se com os números n e r1, obtendo-se um novo quociente q2 e um novo resto r2 < r1. Continua-se assim até se chegar a um resto que seja 0. Então (m,n) é o último resto que se obteve antes desse. Assim, por exemplo se partirmos dos números 132 e 30, os cálculos a efectuar são os seguintes:

132 = 30×4+12

30   = 12×2+6

12   = 6×2


Nesta última divisão, o resto é nulo. Logo, (132,30) = 6, que foi o último resto não nulo. É evidente que este cálculo foi muito mais simples do que aquele que teria envolvido determinar todos os divisores de 132 e todos os divisores de 30.

O algoritmo de Euclides surgiu nos Elementos de Euclides. De facto, vem aí duas vezes: no livro VII (numa versão numérica, que é aquela que foi vista acima) e no livro X (numa versão geométrica). Possivelmente, já era conhecido antes do tempo de Euclides, mas não há provas directas disso. Este algoritmo foi redescoberto no Índia e na China e foi divulgado na Europa Ocidental no século XVII. Hoje em dia, em Portugal, faz parte do programa do 2º Ciclo do Ensino Básico.

No entanto, até o algoritmo de Euclides acabou por ser superado. Em 1967, surgiu um novo algoritmo, o algoritmo de Stein, que envolve ligeiramente menos cálculos que o de Euclides. O algoritmo é o seguinte: se m = n, então (m,n) = n. Caso contrário, examina-se a paridade de m e de n e então:


 se m e n forem pares, (m,n) = 2× (m/2,n/2);

 se m for par e n for ímpar, (m,n) = (m/2,n);

 o caso em que m é ímpar e n é par é análogo;

 se m e n forem ímpares e m > n, (m,n) = ((m – n)/2,n);

 o caso em que m e n são ímpares e m < n é análogo.


No caso do exemplo anterior, os cálculos seriam os seguintes:

(132,30)   = 2×(66,15)

 

                         = 2×(33,15)

 

                         = 2×(9,15)

 

                         = 2×(9,3)

 

                         = 2×(3,3)

 

                                   = 6


À primeira vista, poderia parecer que o algoritmo de Stein leva a mais cálculos e é mais complexo que o de Euclides, mas isso é porque o algoritmo de Euclides tem uma dificuldade oculta: a divisão. Com efeito, para se poder empregar o algoritmo de Euclides é necessário que se saibam dividir números arbitrariamente grandes, mas as únicas divisões que surgem no algoritmo de Stein são divisões por 2 de números pares.

Como se pode ver por este exemplo, até na Matemática Elementar há avanços recentes.



Publicado/editado: 21/02/2014