Linhas e Pontos por Carlos Marinho

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião abril de 2015



 

Este espaço vai ser dedicado a aspectos simples da vida em contexto real, em que a matemática pode entrar como elemento surpresa. Em síntese, estas "linhas" terão como base "pontos" comuns da nossa vida, em que a objectividade da Matemática pode fazer compreender alguns "problemas" que vão surgindo em contexto real. Como afirmou Pitágoras, "Todas as coisas são números". Nesta rubrica tudo cabe... até a matemática.           

   

Carlos Marinho -  Professor de Matemática             



Linhas e Pontos por Carlos Marinho - Matemática e Liberdade...

Artigo de abril de 2015 - Dia 10... 

 

Clube de Matemática SPM

Facebook Clube SPM

Título: A Matemática e a Liberdade... 

  


As décadas de 30 e 40 foram especiais para a Matemática em Portugal. Uma geração de indómitos matemáticos deram um novo ânimo à investigação no nosso país. A 12 de dezembro de 1940 nasceu a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), vocacionada para o desenvolvimento do ensino, da divulgação e da promoção da investigação matemática em Portugal. As associações não eram bem vistas pelo regime vigente. Não foi possível registar os estatutos da SPM, que só foi legalizada depois do 25 de abril, a 10 de outubro de 1977, quase 40 anos após a sua fundação. Todos os colóquios ou conferências que visavam contrariar o isolamento dos matemáticos portugueses foram muitas vezes considerados atos políticos, arruinando o desenvolvimento da matemática. A perseguição aos matemáticos não tardou. Logo em 1945, António Aniceto Monteiro viu-se obrigado a deixar o país, por não conseguir ensinar. Nos anos de 1946 e 1947 foi desencadeada uma ofensiva contra a Universidade, tendo sido afastados ou impedidos de prosseguir as suas carreiras Bento de Jesus Caraça, Ruy Luís Gomes, Zaluar Nunes, Hugo Ribeiro, Alfredo Pereira Gomes, entre outros. Os Centros de Matemática foram praticamente extintos tal como foram proibidas as atividades da SPM em qualquer dependência do Ministério da Educação. Pressionados pela PIDE, muitos dos sócios fundadores e grandes dinamizadores da Sociedade partiram para o exílio. A atividade da SPM entrou em decadência. Só após o 25 de Abril de 1974, a SPM pôde retomar em plenitude os trabalhos e concretizar os objetivos definidos pelos seus fundadores. 

No dia 25 deste mês comemoram-se 41 anos de liberdade e no dia 12 de dezembro 75 anos de SPM. Muitos matemáticos foram perseguidos, presos, mas nunca amordaçados. Muitos deles, pagaram um preço demasiado alto. Mas, lutaram por uma causa nobre: a liberdade. Bento Jesus Caraça referia que “derrotas só existem aquelas que se aceitam”. 

Os matemáticos nunca aceitaram a privação de liberdade. Em Portugal, nos dias de hoje lemos notícias preocupantes que põem em causa a democracia. Por mais inabilitados que possam existir neste retângulo chamado Portugal que colocam em causa o nosso modus vivendi, eu vou sempre dizer que Portugal é um espaço excelente para se viver e desenvolver a matemática. Acompanho o poeta António Botto num dos mais belos poemas sobre Portugal, “Legenda”:
 

“Ó Pátria mil vezes Santa

– Meu Portugal, minha terra

 Onde vivo e onde nasci!


Na tua História me perco. 

E nela tudo aprendi. 


Mesmo que fosses pequena 

E eu te visse pobre ou nua 

– Ninguém ama a sua Pátria por ser grande, 

Mas sim por ser sua!”

Publicado/editado: 09/04/2015