100 Problemas com José Paulo Viana

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião outubro de 2015




 

Ah, os problemas!                                   
Lembram-se do prazer que é encontrar um problema, daqueles que nos desafiam logo que o lemos, e depois avançar na resolução até conseguir descobrir a resposta?                                   
Recordam-se da alegria que é descobrir a forma elegante e simples que alguém encontrou para resolver um problema que julgámos impossível ou que tanto trabalho nos deu?                                   
E, finalmente, concordam que entusiasma discutir com outras pessoas a maneira de chegar à solução de um problema que nos intriga?                                   
Pois é por estes três motivos que esta secção existe.

   

José Paulo Viana - Professor de Matemática na Escola Secundária de Vergílio Ferreira, autor da seção "Desafios" aos domingos no jornal Público


100 Problemas com José Paulo Viana - A Caixa dos Números

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião novembro de 2015                                             

Clube de Matemática SPM


Título: A Caixa dos Números



 


Temos uma caixa para guardar números que, inicialmente, estava vazia.


Quando faltava um minuto para o meio-dia, metemos lá os números de 1 a 10 e, simultaneamente, retirámos o 1.


Quando faltava meio minuto (1/2) para o meio-dia, metemos lá os números de 11 a 20 e retirámos o 2.


Quando faltava 1/3 de minuto para o meio-dia, metemos lá os números de 21 a 30 e retirámos o 3.


Quando faltava 1/4 de minuto para o meio-dia, metemos lá os números de 31 a 40 e retirámos o 4.


E assim sucessivamente. Sempre que faltava 1/n de minuto para o meio-dia, metíamos lá a enésima dezena (números de 10n-9 a 10n) e retirávamos o n. Tudo isto feito cada vez mais depressa, mais depressa, até que, plim!, chegámos ao meio-dia.


O que é que está na caixa ao meio-dia?
Ou, mais simplesmente, a caixa está vazia ou não?


Este é um daqueles problemas que, claro, só pode existir na nossa imaginação mas que, lançado num grupo de pessoas que gostem de pensar, provoca sempre animadas discussões.


É que, qualquer que seja a resposta que nos deem, é sempre possível arranjar bons argumentos contra…


Se nos disserem que a caixa está vazia:


– Mas como? Cada vez que atuámos, a quantidade de números na caixa aumentou de nove unidades (inserimos dez números e retiramos um). A caixa foi ficando com cada vez mais números e, como fizemos isso uma infinidade de vezes, essa quantidade tende para infinito. A caixa não pode estar vazia.


Se nos disserem que a caixa não está vazia (mesmo que não nos digam o que lá possa estar):


– Mas como? Se a caixa não está vazia, é porque tem lá um ou mais números (mesmo que não saibamos quais). Seja K um desses números. Impossível! O número K não pode lá estar porque, quando faltava 1/K de minuto para o meio-dia, esse número foi retirado. Desta forma, todos os números acabaram por sair. Logo, a caixa está vazia.


E agora, leitor. Qual destas argumentações lhe parece mais consistente? As duas têm uma lógica que parece imbatível.


O paradoxo resulta da nossa dificuldade em lidar com o infinito. É que, lá, as regras não se aplicam bem da mesma maneira.


Para resolver o impasse, vamos tentar outra abordagem.


Peguemos noutro problema parecido com este.


Temos uma caixa e metemos lá todos os números naturais. Quando faltar um minuto para o meio-dia retiramos o 1, quando faltar 1/2 de minuto para o meio-dia retiramos o 2, quando faltar 1/3 de minuto para o meio-dia retiramos o 3, e assim sucessivamente.

Ao meio-dia, o que vai estar na caixa?


Penso que, neste caso, ninguém terá dúvidas: todos os números foram saindo e a caixa estará vazia.

Mas, agora, reparemos. Neste problema, metemos na caixa todos os números naturais e depois fomos retirando-os um a um. Ora, no problema inicial, os números também foram colocados todos na caixa (não de uma vez só, mas em prestações de dez…) e depois retirados um a um. 


Os dois problemas são equivalentes.

Espero que, depois disto, ninguém tenha dúvidas. 


A caixa está vazia.


Publicado/editado: 17/11/2015