À Distância por Daniel Folha

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião maio de 2016

 



 

 

Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.                                                                                                                 


Daniel F. M. Folha - Diretor Executivo do Planetário do Porto - Centro CIência Viva, astrónomo do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Professor Auxiliar Convidado do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N) e elemento do CIENCEDUC Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N)   

 


À Distância por Daniel Folha - Trânsito, sim! Trânsito, não!

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião maio de 2016

Dia 13         

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TÍTULO: Trânsito, sim! Trânsito, não!

O planeta Mercúrio, a Terra e o Sol ficam aproximadamente alinhados, 3 ou 4 vezes em cada ano, em média uma vez em cada 116 dias, com ambos os planetas do mesmo lado do Sol. Estes eventos são designados por conjunções inferiores de Mercúrio. Em algumas conjunções inferiores o alinhamento é tão perfeito que, visto da Terra, Mercúrio passa mesmo em frente ao Sol ocorrendo um fenómeno conhecido por trânsito de Mercúrio. Em cada século ocorrem apenas cerca de 13 trânsitos de Mercúrio.


Por que motivo a frequência de trânsitos de Mercúrio é tão baixa quando comparada com a frequência de conjunções inferiores? Se as órbitas da Terra e Mercúrio fossem coplanares teríamos um trânsito em cada conjunção inferior. Mas Mercúrio orbita o Sol num plano que se encontra inclinado cerca de 7 graus relativamente ao plano orbital da Terra. Consequentemente, na maior parte da conjunções Mercúrio encontra-se acima ou abaixo da posição do Sol no céu visto da Terra. Para que ocorra um trânsito há dois eventos que têm que ocorrer em simultâneo ou em instantes de tempo relativamente próximos: a conjunção inferior e Mercúrio intersetar o plano orbital da Terra.


No passado dia 9 de maio de 2016 a conjunção inferior de Mercúrio e o seu atravessamento do plano orbital da Terra ocorreram com uma separação de apenas cerca de 7 horas, tendo por isso ocorrido a passagem do planeta mesmo em frente ao Sol.


 
Trânsito de Mercúrio no dia 9 de maio de 2016, visto a partir do espaço. O “pontinho” escuro em cima do Sol corresponde ao planeta Mercúrio. A linha azul representa a órbita da Terra e a linha branca a órbita de Mercúrio. Crédito: Planetário do Porto - Centro Ciência Viva; Produzido com o programa de simulação 3D em tempo real SkyExplorer V3, da RSA Cosmos.


A próxima conjunção inferior de Mercúrio ocorrerá no dia 13 de setembro de 2016, mas nessa altura o planeta estará situado abaixo do plano definido pela órbita da Terra, como se pode ver na figura seguinte.


 
Conjunção inferior de Mercúrio no dia 13 de setembro de 2016, visto a partir do espaço. Mercúrio é o ponto branco situado abaixo do Sol na extremidade de linha branca que representa a sua órbita. Crédito: Planetário do Porto - Centro Ciência Viva; Produzido com o programa de simulação 3D em tempo real SkyExplorer V3, da RSA Cosmos.


O próximo trânsito de Mercúrio ocorrerá a 11 de novembro de 2019. Esperemos por um céu limpo de um verão de S. Martinho para o podermos observar com telescópios e em condições adequadas de segurança. Depois dessa data, apenas em novembro de 2032 haverá nova oportunidade...


Publicado/editado: 13/05/2016