À Distância por Daniel Folha

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião julho de 2016

 



 

 

Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.                                                                                                                 


Daniel F. M. Folha - Diretor Executivo do Planetário do Porto - Centro CIência Viva, astrónomo do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Professor Auxiliar Convidado do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N) e elemento do CIENCEDUC Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N)   

 


 

À Distância por Daniel Folha - Quase uma lua...

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião julho de 2016

Dia 13           

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TÍTULO: Quase uma lua...

O que chamamos a um objeto do Sistema Solar que anda à volta de outro bem maior? Uma lua!!


Em abril de 2016 foi descoberto um asteroide que acompanha a Terra no seu movimento anual em volta do Sol, é o 2016 HO3. É um pequeno asteroide cujas dimensões exatas ainda não são conhecidas, mas terá um tamanho de algumas dezenas de metros.


Visto da Terra, o que não é de todo possível à vista desarmada, o 2016 HO3 dá voltas e mais voltas ao nosso planeta, como ilustrado na imagem seguinte.
 

O asteroide 2016 HO3 na sua órbita em torno do Sol, sempre na vizinhança da Terra, qual lua terrestre. Crédito: NASA/JPL-Caltech


Temos então uma segunda lua?? De facto, tecnicamente não. O asteroide 2016 HO3 está longe demais da Terra para ser um seu satélite natural! Atualmente não se aproxima da Terra a distâncias inferiores a cerca de 14 milhões de quilómetros, nem se afasta mais do que cerca de 40 milhões de quilómetros.


Mas afinal que critério define se um objeto celeste é ou não satélite de outro? Fiz esta pergunta a mim próprio quando li sobre a descoberta do 2016 HO3 e como não sabia a resposta tratei de colocar a questão a quem percebe do assunto. Neste caso recorri ao meu colega Alexandre Correia, do Departamento de Física da Universidade de Aveiro, cuja especialidade é dinâmica do Sistema Solar. A resposta foi rápida: ser ou não lua tem a ver com a esfera de Hill!


O que é então a esfera de Hill? É a região do espaço onde a influência gravitacional de um objeto celeste de menor massa (B) é dominante face às perturbações gravíticas produzidas por um objeto celeste de maior massa (A). Para um terceiro objeto ser um satélite estável de B é necessário orbitar bem dentro da esfera de Hill deste. O raio da esfera de Hill de B depende da distância a que orbita A, da excentricidade da sua orbita e da razão das massas de B e A.


Aplicado este conceito ao sistema Terra-Lua, temos que o raio da esfera de Hill da Terra é cerca de 1.5 milhões de quilómetros. A Lua, a 400 mil quilómetros da Terra está bem dentro da esfera de Hill terrestre e por isso é um satélite natural do nosso planeta. Já o asteroide 2016 HO3 nunca entra na esfera de Hill terrestre. Se neste momento, e ao que tudo indica durante alguns séculos mais, o 2016 HO3 não se afastar muito da Terra, as perturbações gravíticas produzidas pelo Sol na órbita daquele asteroide acabarão por levá-lo para outras paragens... De momento, o asteroide 2016 HO3 é uma quase lua da Terra. Pena não a vermos facilmente!


P.S. Qual “quase lua”, desde janeiro de 2010 que orbito o Clube de Matemática da SPM. Agradeço ao Carlos Marinho o convite para escrever a rubrica mensal “À Distância...”. Perturbações não gravíticas alteram a minha orbita para outras paragens. Foi um prazer escrever mensalmente algumas linhas sobre astronomia para o Clube de Matemática. Faço votos para que tenham gostado. Boas férias e até sempre!


Publicado/editado: 13/07/2016