Rodrigues, o tipo que foi longe-Gonçalo Gouveia-contos 3º grau-Ep. III

Destilando a humilhação, o Rodrigues emergiu do pano que cobria a mesa com o ar compenetrado de quem estivera a inspecionar a alcatifa e meditava o veredicto. Quis estrangular o Simões, erradicando da sala, e se possível do universo, a fleuma do subalterno que ridicularizava o seu pânico mas conteve-se e limitou-se a enxotá-lo, tomando posse do microfone. – Caros amigos - deixou cair no tom condescendente de quem se dirige a crianças assustadas - o domínio do paradigma determina o desafio permanente dos seus agentes ativos, testando a sua prontidão e desafiando a integral verticalidade dos relacionamentos hierárquicos, desafio aqui simbolizado pelo balão que pedi a este meu filho para rebentar. Nesse momento virou-se para a criança num gesto teatral, mas em vez do filho legítimo, para seu horror, estava ali o rebento natural que tivera com a mulher do patrão, de mão dada com o pai putativo que olhava agora o Rodrigues com a bondade de um esqualo.