Luis Souto (Piloto) - Entrevistado clube spm de outubro de 2017...

Clube Matemática da SPM - Clube Entrevista

Luis Souto (piloto) é o entrevistado do clube de matemática da SPM de outubro de 2017. O Clube SPM foi mais alto, tocamos nas nuvens, intersectamos os céus, ligámos o piloto automático para levar até si uma entrevista notável, exclusiva e única. Nesta viagem em primeira classe o nosso convidado leva-nos em segurança e em velocidade cruzeiro desde a sua infância, até à escola, à sua família até à paixão pela aviação comercial nunca deixando umas pistas... sobre a matemática. Com o check-in feito, apertem os cintos que vamos levantar voo...

Que tipo de viagem foi a tua infância?
Uma viagem a “rádio altitude” 0 feet, a uma velocidade que raramente excedia os 40km/h, mas carregada de magia e momentos que guardo com enorme saudade! Lembro-me das viagens de trator que fazia com regularidade com o meu avô, das paisagens, das gargalhadas sem motivo, das voltas de bicicleta que se transformavam em aventuras sem igual!

A escola é um bom aeroporto para um bom futuro?
Sem dúvida! É ela que cria alicerces fortes para conseguirmos chegar a bom porto. Dá–nos instrumentos valiosíssimos para estarmos sempre no rumo certo. Acredito também que o melhor balcão de check in é a nossa casa! É com os pais que aprendemos os memory items que estão presentes ao longo de toda a vida. 

A matemática é o porta aviões das ciências?
É uma ciência cheia de curiosidades, de muitos minutos de estudo e empenho mas que se concentram numa palavra – êxito!! Aeroportos alternantes como a trigonometria, física assentam na matemática, mas mais giro do que todas as ciências, é a forma prática como a matemática se apresenta no nosso dia a dia – seja na gestão orçamental, no planeamento diário relativo a horas, nos consumos das nossas viaturas. Nos próprios aviões é uma ciência bastante presente, expressa maioritariamente pela capacidade de raciocínio! 

A aproximação para te tornares piloto foi feita...
Depois de ter descoberto que não tinha vocação na área de engenharia civil! Foi uma aproximação que obrigou a um “borrego”, subir a uma boa altitude de segurança e traçar um plano diferente, bem sustentado. Sonhei com as nuvens de vários sítios mas acabei por aterrar na Nortávia onde iniciei o percurso que possibilitou novos voos. 

A bagagem de um bom piloto aterra na matemática e na física. Concordas?
Claro que sim, mas essa será a bagagem de mão. A melhor bagagem de porão tem um nome simples – bom senso! É nele que reside a chave para boas tomadas de decisão. Numa área tão desenvolvida e estudada, saber-se reduzir grandes problemas de 3 e 4 incógnitas a equações simples de 1º grau é arte! 

Dados estatísticos referem que o avião é o transporte mais seguro do mundo. A pista que explica é...
No mínimo extensa… O nível de exigências, conhecimento, estudo, preparação e testes consecutivos (as famigeradas idas a simuladores) obrigam a que qualquer profissional desta área mantenha regularmente as suas competências em bons níveis. A pista chama-se regularidade - fica ali na intercessão de duas retas que partilham o mesmo declive: implica um trabalho contínuo, mas sempre muito gratificante!  

O que sentiste na primeira viagem que realizaste com passageiros?
Um dos momentos mais giros da carreira, sem dúvida! Foi na Indonésia, final de Janeiro de 2012! Estávamos 3 pilotos no cockpit dos quais 2 em treino!! Depois de simuladores, voos base, voos de observação… chegar o momento de poder descolar o avião e aterrá-lo com 200 almas a confiar essa tarefa, não só se tornou um fator motivador e carregado de energia como também pacificador pois sabia do afinco e do número de pessoas que estariam a rezar naquele momento!  

 

Qual é a sensação de pilotar um avião?
É a de viver o sonho todos os dias!! Pelo sonho é que voamos! Desde as emoções e sensações das descolagens e aterragens, até à forma como se contornam nuvens que fariam os passageiros saltar… deixar a nossa assinatura no céu pela condensação dos gases de escape! Trabalhar em equipa de forma segura e profissional sem esquecer nunca um bocadinho de bom humor! Terminar o dia com um sorriso rasgado, de orelha a orelha! Dizer um “yes”! cheio de energia, quando se consegue aquela aterragem que saiu um “fininho”! Desligar a bateria, fechar a porta, sair do avião, olhar para trás e dizer: “que sorte, amanhã vou poder repetir!”. 

A família é o paraquedas de um piloto?
Diria que a estrutura na íntegra!! Penso que a componente familiar tem forte impacto na performance de um piloto. É necessário estar-se bem estruturado a nível familiar para que nunca se traga uma carga de stress negativo para o avião! Por outro lado a alegria vivida diariamente ao chegar a casa após se ter visitado no mesmo dia (por exemplo) Paris e Dublin e ouvir um “mamã, mamã o papá chegou” compensa todas as horas de ausência! Uma das grandes vantagens desta companhia é exatamente essa – no mesmo dia descola-se e regressa-se à casa e família que nos acolhe.  

Fernão Capelo Gaivota defendia que “se o destino é o infinito, o caminho é nas alturas”. O que achas?
Sou um forte seguidor da expressão o sonho comanda a vida! É isso que nos faz perseguir e alcançar novos objetivos!! À semelhança de uma gaivota que aspirava a ares onde não conseguiria navegar (devido à elevada altitude), também nós devemos aspirar sempre a objetivos que nos movam da nossa zona de conforto e nos ajudem a evoluir!  

O matemático Alfred Rényi disse um dia que “quando estou infeliz trabalho em matemática para ficar feliz. Quando estou feliz, trabalho em matemática para me manter feliz”.  O que te faz feliz?
Saber que não tenho um “trabalho” mas sim um “hobbie” remunerado! Tenho imenso gosto em estar nesta área de uma forma ativa e sinto que na Ryanair consigo ter o melhor dos dois mundos: a componente da  aviação preenchida e imenso tempo livre para estar com a minha Joaninha e os dois turistinhas! 

Esta é a hora de chegada desta entrevista. Sem piloto automático achas que aterramos em segurança?
Ahahah!! Não sei não… confiaria mais no piloto automático. Ele é mais constante! 

 
                                                                                                                Por Carlos Marinho
 
Publicado/editado: 01/10/2017