O Cavaleiro da Triste Eleição por José Veiga de Faria - Hist. 21 (P4)

Contos de 3º Grau - História 21

O Cavaleiro da Triste Eleição por José Veiga de Faria - História 21 (Parte 4) 

Contos de 3º Grau - História 21

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Título:  O Cavaleiro da Triste Eleição 


             Episódio I - Gonçalo F. Gouveia             Episódio II - José Carlos Pereira       Episódio III - José Carlos Santos  

             Episódio IV - José Veiga de Faria           Episódio V Sílvio Gama                  Episódio VI - Carlos Marinho             

   


Episódio I por Gonçalo F. Gouveia - Dia 1


O sargento Reis, veterano da Guarda, sentiu que lhe ardiam novamente os olhos e voltou apassar o lenço pela testa, mais por entretenimento que por eficácia, porque o calor era tal que sentia que toda o seu orbe calvo se liquefazia. Suspirou pela centésima vez e amaldiçoou quem tivera a ideia de os por numa operação de fiscalização a viaturas numa estrada onde a única viatura era a deles. Dele e do malandro do Cabo Ferreira que se ausentara para ‘verter águas’ e ainda não voltara. Foi ao abanar desolado a cabeça que o viu pela primeira vez: na curva, bem ao meio da estrada, perfilava-se uma visão extraordinária: no lombo de uma pileca miserável cavalgava um sujeito carregando uma longa vara à guisa de lança, coberto por uma armadura improvisada em cartão canelado; na cabeça, brilhando ao sol, empoleirava-se uma arrastadeira ostentando uma etiqueta onde se lia: ‘Propriedade do Centro de Saúde’. O Sargento, atónito,reconheceu finalmente o Presidente da Junta da vizinha Carcamelos quando o estrambólico personagem berrou a plenos pulmões: ‘Prostrem-se hostes, que se vos apresenta D. Quixote, o da Triste Eleição, que vencido em justo escrutrinio, caminha para o exílio!’.


Episódio II por José Carlos Pereira - Dia 6

  

Ao ouvir aquilo, o Sargento não evitou falar para os seus botões “este homem pirou!” e acto contínuo manda-o parar e ordena-lhe:

− Ó homem desça do cavalo que ainda se aleija! Pior, ainda aleija o animal! 

O Presidente, ajeitando a “armadura” e o “capacete”, responde ao Sargento:

− Não vê que tenho de fugir para o exílio? Deixe-me seguir!

Entretanto, o Ferreira, ainda com as calças na mão, chega perto do seu superior e ao ver toda aquela cena não conseguir evitar rir descontroladamente ao mesmo tempo que diz, alto e bom som, “o presidente endoideceu, está maluco!”. A situação descontrolou-se rapidamente. O Sargento não conseguia impor a sua autoridade e a forma incontrolável como o Cabo Ferreira ria também não ajudava nada. Mas algo pior vinha a caminho. 

Ao fundo, algumas dezenas de pessoas corriam pela estrada empunhando enxadas, foices e outros instrumentos agrícolas, gritando “não o deixe fugir Sargento, esse sacana tem muito que explicar”. O presidente ao ver aquela gente toda atrás dele espeta as esporas na pileca que arranca a toda a velocidade. 

O Sargento não sabe o que fazer, pergunta o que se está a passar mas só lhe respondem “temos de o apanhar esse miserável, o sacana tem muito que explicar”.


Episódio III por José Carlos Santos - Dia 11

Falar é fácil, mas o facto é que enquanto aquela gente ia toda a pé, o Presidente ia a cavalo… se é que se podia chamar isso àquele pobre animal. Mas sempre se deslocava mais depressa que toda aquela multidão. 
O Sargento ainda estava longe de perceber o que tudo aquilo queria dizer, mas finalmente soube o que fazer. Virou-se para o Ferreira e disse: 
— Ferreira, controle-me aqui essa gente que eu vou de carro e apanho o Presidente. Agora se consigo fazer com que ele me ligue… Bom, isso já não sei dizer. 
O Ferreira ficou atarantado, mas o Sargento nem lhe deu tempo de falar. Meteu-se no carro e seguiu atrás do Presidente. A multidão entretanto chegou junto do Cabo e este finalmente tomou uma atitude. 
— Alto! — disse ele para as pessoas. — Podem dizer-me o que vem a ser isto? 
Um homem já de uma certa idade mas com ar rijo e de autoridade perguntou: 
— Então não sabe o que foi que este malandro fez enquanto foi Presidente da Junta?


Episódio IV por José Veiga de Faria - Dia 16

- A trote meu velho amigo que o pessoal vem aí e multidão em fúria é pior que mil como tu com o freio nos dentes, falou o nosso D. Quixote com o seu adorado cavalo.

Foi senão quando, de uns arbustos na berma da estrada, ouviu:

- Pst… Pst…pára aí oh Silva! Abriga-te aqui enquanto é tempo que a malta vem-te com uma vontade…

O Silva refreou o cavalo, desceu e conduziu-o, apressado, pela trela, até uma clareira separada da estrada por uns arbustos.

- Estás a ver no que dá quando se pede às gentes rectidão e trabalho em nome de um futuro honrado e feliz? disse-lhe o amigo consternado enquanto o observava e pensava “- Estás mesmo pirado da bola”.

- Quiseste acabar com a roubalheira generalizada no Centro de Saúde enfiaram-te um penico na cuca, continuou. Pediste a professores e alunos para dedicarem parte do seu fim de semana a pintar o edifício da Escola que estava um descalabro desenharam um cartaz com a tua cara atrás de uma suástica, afixaste no átrio da escola a frase “Escola fácil vida difícil…”, riscaram e escreveram “Esforço para as crianças nunca, não passará”, quiseste…

Já não acabou; na curva da estrada assomava a turba de braços no ar, aos berros, faiscando ódio pelos olhos: 

- Morte ao Silva! Viva o Nogueira!... Viva!...


Episódio IV por Sílvio Gama - Dia 21


Episódio VI por Carlos Marinho - Dia 26


FIM 


Publicado/editado: 16/10/2017