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"Intersecções" é uma rubrica onde se apresentará o resultado de cruzamento(s) de vários assuntos ou de várias ideias, a partir das Ciências de Educação. O conjunto que resultará desta operação será um produto com uma leitura amplificada, integrada e sustentada pelo(s) argumento(s).
Daniela Gonçalves - Professora do Ensino Superior |
Intersecções por Daniela Gonçalves - Perguntamos quando temos interesse...
Título: Perguntamos quando temos interesse
Parece-nos que a escola deveria valorizar muitas mais as interrogações, sobretudo, as boas interrogações... Não se trata de perguntas de algibeira, mas antes aquelas perguntas que nos fazem ficar em silêncio e a pensar na resposta. Quiçá, a grande finalidade educativa resida exatamente aí: potenciar no aluno a capacidade de formular questões… boas questões.
O espanto, fonte de interrogação, é natural em todos os seres humanos, tal como a perplexidade perante alguns fenómenos que o rodeiam. O confronto constante do ser humano com o mundo não deixa de provocar uma profunda admiração. Ora, o espanto e a consequente interrogação não são apanágio de um qualquer sábio ou daquele que é considerado como o construtor de um sistema filosófico. O levantar questões acontece em todos nós e em todas as idades. Mais ainda: só questiona quem tem interesse. Se estamos interessados, queremos mais, perguntamos mais, envolvemo-nos mais na construção do conhecimento numa espécie de círculo virtuoso: interesse-pergunta(s)-conhecimento-pergunta(s)-interesse-conhecimento, ...
Portanto, vamos começar pelo início! Vamos provocar as crianças com questões que elevem a qualidade das aprendizagens. O modo como abordamos as questões/interrogações que as crianças colocam, o nível de profundidade que exigimos, a valorização do pensar por si mesmo, as sugestões oferecidas, podem reunir um estilo de ensinar e evidenciar o nosso compromisso/interesse pelo processo de aprendizagem. O modo como as crianças aprendem ou se apropriam dos conteúdos deve ser sempre um modo (re)criador para que, na verdade, o ato de ensinar seja coerente, permitindo a sua interiorização na captação da profunda unidade muitas vezes associada à realidade.
Praticar isto – esta forma de ensinar – é, portanto, um estilo próprio. Refletir constantemente a partir de perguntas implica, assim, a tomada de consciência do conjunto de circunstâncias e da teia de relações em que o ser humano vive, das quais faz parte, e a partir das quais adquire consciência.
Talvez Xenofonte tenha mesmo razão - "interrogar é ensinar". Talvez a pergunta dependa do interesse e do investimento que fazemos na pessoa e/ou no assunto. Talvez possamos estabelecer duas intersecções a este propósito, a saber: espanto/curiosidade-interrogação; interrogação-interesse/compromisso.
Façamos perguntas! Mas não se esqueçam: só contam as boas.