Novo Ano por Gonçalo Gouveia - História 24 (Parte 4)

Contos de 3º Grau

Novo Ano por Gonçalo Gouveia - História 24 (Parte 4)

Contos de 3º Grau

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Título: Novo Ano

        

   


Episódio I por José Veiga de Faria - Dia 1


Naquele primeiro dia do ano o João abriu a janela e estendeu o olhar para o extenso parque coberto de neve. Ela caía docemente, tudo estava calmo, como se a humanidade tivesse decidido pôr-se em pausa para descansar e repensar-se. A sua jovem mulher enroscou-se nele para partilhar a vista, os sentimentos e quiçá o pensamento. O João  beijou-a docemente enquanto sussurrava: será que este ano vai ser diferente? Ficaram uns minutos a contemplar o maravilhoso espectáculo da neve a cair até que a Marta se afastou para preparar o pequeno almoço.

- A Susana e o Luís devem estar a acordar, vou preparar um pequeno almoço à altura…

A Susana era a única filha de ambos, casada com o Luís, ela gestora ele engenheiro informático. Estavam a começar a vida mas o arranque não estava a ser fácil. 

O João ligou a televisão e sintonizou o novo Canal  Novo Futuro mesmo na altura em que começavam as notícias.

- O Senado americano vai apreciar um pedido de impeachment do Presidente, por incompetência na condução dos assuntos de estado, por criar divisões entre os americanos e colocar a estabilidade e paz no mundo em perigo……….. O Papa Francisco convidou os líderes religiosos para uma reunião em Assis para dirimir diferenças e conseguir uma união de esforços à volta de verdades  eternas comuns:  Amor e Cooperação… a União Europeia decidiu lançar um ambicioso plano de acolhimento e integração de refugiados ao mesmo tempo que decide investir num poderoso sistema de informações e criar um fortíssimo exército comum de defesa…”se queres a paz prepara a guerra” lembrou o general Mac Smith……, ia debitando a locutora….

- Mãe que cheirinho a café, disse a Susana com ar ainda ensonado. Sabem que o Luís e eu tivemos uma ideia brilhante? Vai-nos permitir viver e ajudar a viver; … e a Net vai potenciar os nossos planos… 


Episódio II por Sílvio Gama - Dia 6


- Nada como ter boas ideias para enfrentar o ano que agora começa.... Uma grande chávena de café para ti... toma lá... tens aqui estes dois tipos de cereais, mais estas panquecas acabadas de fazer e estas compotas maravilhosas...   
- Sempre a fazer-me miminhos, mamã... olha que eu não quero engordar. Papá, que notícias estão a passar na televisão?  
- Bem, já sabes... ano novo, notícias velhas. As do costume... o capitão Silva que fala dos acidentes rodoviários da época natalícia, o Rui Santos e a sua gravata nova a intelectualizarem as trivialidades desportivas... olha ele divagou uns bons minutos sobre a hora do jogo Sporting-Benfica versus o interesse dos adeptos... o twitter do Trump, a mensagem de ano novo do Papa Francisco, os amigos portugueses de Madonna, o novo look da Rita Pereira, o PAN contra a utilização de animais nos vídeos da Ana Malhoa, ... que mais queres saber?  
- Hey... João... começamos o ano com mau humor? – Perguntou-lhe a Marta, enquanto lhe dava um beijo na orelha.  
– Toma! Este café é para ti. Mas... o Luís não vem? Podemos tomar o pequeno-almoço todos juntos.  
- Espera, mamã, vou chamá-lo.  
A Susana, apressada, dirigiu-se ao quarto de ambos e, para sua surpresa, encontrou o marido, completamente nu, somente com a cartola, que o Fernando Medina ofereceu para a celebração da chegada do novo ano, na cabeça.  
Candidamente, disse-lhe:  
- Querida, já podemos ir?


Episódio III por Carlos Marinho - Dia 11


Vá lá, Luis, deixa-te de brincadeiras! Veste-te e anda para a sala. 
Nisto aconteceu o impensável. Ouviu-se um estrondo enorme começando a casa a tremer, com as paredes a quererem ceder a qualquer momento, quadros a cair, jarras partidas no chão, a luz do tecto a falhar... 
Susana gritou: - é um tremor de terra... anda, vamos lá para fora. 
Luis, de cartola na cabeça, não sabia o que fazer. Não tendo tempo para se vestir, pegou no edredão da cama, enrolou-o à volta do corpo, de cartola na cabeça pôs os pés ao caminho. 
À passagem pela sala passou pela sogra que incrédula e assustada referiu: 
- Que vestimenta é essa? 
Sem parar de correr disse com alguma graça no meio daquela desgraça: 
- É a nova moda outono/inverno... 
Em segundos estavam todos lá fora...


Episódio IV por Gonçalo F. Gouveia - Dia 16


Estacaram na placa central da avenida em frente ao prédio, ainda ofegantes, e procuravam recompor-se o melhor que lhes permitia o decoro desfalcado quando se aperceberam que todos os inquilinos do quarteirão, arrastados pelo mesmo impulso, se encontravam ali, no meio da neve, mas não tremiam de frio ou olhavam para as fachadas recém-sacudidas com natural receio de um colapso iminente: olhavam para eles, siderados! Endireitaram num ápice, alarmados, e instintivamente, com uma deslealdade digna dos anais das pequenas infâmias, afastaram-se do Luís. Virado de costas para multidão, este mantinha a inverosímil cartola no alto da cabeça e o edredão enrolado no corpo, agora o bastião inútil de uma dignidade irrecuperável porque estava perfeitamente consciente que a força da gravidade vencera há alguns segundos a batalha para cobrir os seus quartos traseiros, que se lhe gelavam com um zelo alarmante. Mas o que ele não sabia, ainda, era que o alvo da atenção da multidão não eram os seus glúteos, era o que fora tatuado neles, nas brumas alcoólicas da noite anterior: “bomnegocio.com”.


Episódio V por José Carlos Pereira - Dia 21

 


Episódio VI por José Carlos Santos - Dia 26

FIM 


Publicado/editado: 16/01/2018