Título: A matemática do ferro de engomar...
Episódio I por Carlos Marinho - Dia 1
A dona Maria e o marido partiram para uns dias de férias no período da Páscoa. No seu antigo mercedes de 1998, o senhor António acelera na auto estrada em direção ao Algarve. Sairam do Porto às 7 da manhã e pelo cheiro estão a passar por Aveiro.
- Que pivete! - diz o senhor António.
- Está a cheirar-me a queimado! solta a dona Maria.
- Não, queimado não! Cheira a fossa! - Retorquiu António.
- Sabes, essa camisa que trazes vestida, passei-a antes de sair!
- E...
- E... acho que deixei o ferro ligado!
- Tens a certeza?
António viu a sua vida a andar para trás. Virou o seu bólide em direção à terra das francesinhas, não fosse encontrar um churrasco maior. Lembrando-se da tábua de engomar, fez pé na tábua em direção ao Porto.
Uma hora mais tarde, entram em casa, não cheirava a esturro. Olharam para o ferro e ele estava bem...desligado!
Episódio III por Gonçalo F. Gouveia - Dia 6
O António de sempre, esse Gibraltar de paciência e fleuma, estava à beira desaparecer numa erupção de fúria quando a dona maria lhe pegou delicadamente na mão e postulou:
– Não ligues filho, estou a ficar velhota… Sussurrou maliciosa, num balido de cabritinho que se oferece ao sacrifício.
Conforme previsto o marido amansou num ápice e apressou-se a afiançar à esposa que estava mais nova que nunca e que velhota estava a mãe dela, quer dizer, não que a achasse velha, gaguejou aflito perante o olhar assassino da dona Maria, tentando perceber como se metera naquela imprudência e se haviam invertido tão subitamente os papéis depois da tontice do ferro de engomar.
– Bom, o melhor é regressarmos à estrada, antes que o sol aqueça e a travessia aromática por Aveiro se torne insuportável, afirmou com um sorriso decidido.
E já iam de facto a salvo, bem a Sul de Aveiro quando a dona Maria disparou:
– Oh António, desligaste o ferro da tomada? Sabes que está avariado e trabalha sozinho, não sabes?
Episódio III por José Carlos Pereira - Dia 11
Ao dizer isto reparou que o rosto do seu marido começava a adquirir o tom encarnado que tão bem conhecia. Ainda pensou dizer-lhe: “como é que um portista ferrenho como tu fica tão encarnado?”, mas achou melhor não dizer nada.
O António bufava, mas também não disse nada. Na primeira oportunidade inverteu novamente a marcha e dirigiu-se ao Porto. Aqueles mais de 150 quilómetros foram feitos num silêncio sepulcral.
Ao entrarem em casa, o António disse para a sua esposa: “Desta vez certifica-te que não teremos de voltar para trás! Já gastei metade do gasóleo nesta brincadeira.”
Depois de a dona Maria ter verificado tudo com precisão matemática, regressaram à estrada. A boa disposição voltou ao casal. Combinaram então parar em Aveiro para comprar uns ovos moles e seguir até à Mealhada para degustar o famoso leitão ao almoço.
Chegados a Aveiro, compraram os ovos moles e, antes de seguirem até à mealhada, o António foi atestar o depósito do Mercedes. Ainda nem sequer tinham saído do posto de combustível quando o Mercedes começou a soluçar e a deitar um fumo denso e muito negro pelo tubo de escape.
O rosto do António voltou a ficar encarnado e em português vernáculo balbuciava: “Tu queres ver, tu queres ver que eu fiz asneira!”.
Episódio IV por José Carlos Santos - Dia 16
Episódio V por José Veiga de Faria - Dia 21
Episódio VI por Sílvio Gama - Dia 26
FIM