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E a matemática pediu namoro à
poesia, mostrando-lhe todas as suas qualidades que passavam por sinais
aritméticos de riqueza, campos cheios de raízes quadradas e um coração
infinito, onde cabiam todos os números perfeitos, como convém a quem se
quer apaixonar. Ela, a poesia, achou-lhe graça. Encontrou-lhe alguma
métrica e deixou-se deslizar em hipérboles que sendo linguísticas a
levaram a exageros que nem o teorema de Pitágoras conseguira resolver.
As incógnitas desta relação eram muitas, atendendo às suas
personalidades ímpares, com números primos à mistura. Foram vivendo numa
matriz de entendimento construída por rimas pouco lógicas e amores em
fracções de denominador comum que sustentavam médias de paixão numa
POEMÁTICA difícil de teorizar…
Nuno
Guimarães - ex-engenheiro, leitor de Português nas Universidades de
Vilnius e de Vytautas Magnus (Kaunas), com manias de poeta…
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Fizeram-se as contas todas! Multiplicaram-se amores,
somaram-se as flores sobrantes da primavera e
queimaram-se folhagens, bastantes, dos outonos
delirantes que enganavam invernos adormecidos,
quase perdidos, a contar os longos meses de
Dezembro. Depois, afagou-se o coração, para apagar
os frios, com café cheio de beijos mascavados, doces
pecados, resultados de complicadas operações de
divisão. Subtraíram-se suavemente as nuvens que
escondiam a lua com cortinas grandes, densas,
tricotadas em algodão, e assim, a operação, ficou
completamente clara, iluminada, certa, perfeita, isenta
de prova real, com céu limpo a confirmar o resultado
final. Fizeram-se as contas todas, naquela escola. Ao
fim do dia, a poesia meteu os lápis e cadernos na
sacola e saiu. Nunca mais ninguém a viu. Consta que
por ousadia, foi estudar algoritmia,no Egipto, na
universidade de Alexandria…