Poemática por Nuno Guimarães

 


E a matemática pediu namoro à poesia, mostrando-lhe todas as suas qualidades que passavam por sinais aritméticos de riqueza, campos cheios de raízes quadradas e um coração infinito, onde cabiam todos os números perfeitos, como convém a quem se quer apaixonar. Ela, a poesia, achou-lhe graça. Encontrou-lhe alguma métrica e deixou-se deslizar em hipérboles que sendo linguísticas a levaram a exageros que nem o teorema de Pitágoras conseguira resolver. As incógnitas desta relação eram muitas, atendendo às suas personalidades ímpares, com números primos à mistura. Foram vivendo numa matriz de entendimento construída por rimas pouco lógicas e amores em fracções de denominador comum que sustentavam médias de paixão numa POEMÁTICA difícil de teorizar…

Nuno Guimarães - ex-engenheiro, leitor de Português nas Universidades de Vilnius e de Vytautas Magnus (Kaunas), com manias de poeta…



Título: ‘’Teorema do Amor em Conjuntos Infinitos’’


‘’Teorema do Amor em Conjuntos Infinitos’’


O logaritmo perdeu toda a razão que lhe vinha dos antepassados gregos ao envolver-se com a

 chaveta, menina solteira vinda de outro planeta onde os números se contam ao contrário.

Perdeu toda a sua base de sustentação e a potência que o caracterizava, foi-se por expoente abaixo.

Fez mil e um malabarismos, caiu em sofismas baratos, mas o amor exponencial, rebentava na sua

 infinita alma, deixando-lhe o coração ocupado em equação, cuja resolução, sabia ser praticamente

 impossível.

A chaveta ria, com aquele ar inocente, de garota indecente, colocando um biquinho nos lábios,

como que beijando quem passa.

Dentro dela, um grupo quase infinito, elementos estranhos que por vezes se entretinha a colocar em

 desenhos.

Com conjuntos mais chegados fazia reuniões, e por intercepções sucessivas, achava os elementos

 comuns, que depois, com ela, passavam noites e noites em escandalosas aventuras matemáticas.

O logaritmo enlouquecia com as brincadeiras da sua apaixonada.

Ela, amuada, virava-lhe costas, e o biquinho que tanto o exponenciava, voltava-o para a direita,

deixando o seu pretendente, a contemplar a concavidade vazia do seu corpo.

Pensou mesmo em suicidar-se, mudar de base, renunciar a tabelas, atirar-se para debaixo de um

 comboio carregado de funções inversas

E assim se foram afastando em incompatibilidades profundas.

Ele recolhido em estudos avançados, estrela de congressos variados, frequentando mestrados,

investigando novas teorias, perdendo as alegrias, ganhando alergias à teoria dos conjuntos

 desadequados.

Ela, em brincadeiras depravadas, sucessivas, com amigos mais ousados, fazia operações perversas,

com raciocínios complicados, até ao dia em que um conjunto vazio lhe apareceu no resultado.

Aí, a chaveta desfez-se em lágrimas, perdeu a graça, envelheceu em processo complexo, ficou como

 um parêntese desconexo, sem aquele apêndice adjacente que organicamente a fizera tão atraente.

Numa noite desesperada, sentou-se a ver TV.

De Oslo, já madrugada, ele ali estava perfeito, em directo, com ar algo circunspecto, o seu

 logaritmo perdido, de Nobel agora nas mãos.

Em discurso emotivo, apresenta teorema, em rima, como um poema, defendendo, inovador, o

princípio do amor, nos conjuntos infinitos.



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Artigo poemática de setembro - dia 15



Publicado/editado: 15/10/2011