Linhas e Pontos por Carlos Marinho




 

Este espaço vai ser dedicado a aspectos simples da vida em contexto real, em que a matemática pode entrar como elemento surpresa. Em síntese, estas "linhas" terão como base "pontos" comuns da nossa vida, em que a objectividade da Matemática pode fazer compreender alguns "problemas" que vão surgindo em contexto real. Como afirmou Pitágoras, "Todas as coisas são números". Nesta rubrica tudo cabe... até a matemática. 

   

Carlos Marinho -  Coordenador do Clube da Matemática da Sociedade Portuguesa de Matemática




Artigo de Novembro


Título: Bilião ou Mil Milhões?


A confusão instalou-se e parece que veio para ficar. Quando afirmamos o ditado popular “é exacto como a matemática”, por vezes alguns números podem-nos passar uma rasteira. No caso do Bilião ou da nomenclatura mil milhões o problema que surge associado a estes números, afinal não passa de um problema de semântica, ou se quiserem de linguagem usada em diferentes países. O problema que envolve esta confusão explica-se em poucos segundos.


Quantos zeros tem um bilião? Em Portugal/Europa um bilião tem 12 zeros (1 000 000 000 000). Nos USA um bilião tem 9 zeros (1 000 000 000). Já todos nós ouvimos em programas de  televisão ou em séries americanas dizer por exemplo “the player of Chicago Bulls the billionaire Michael Jordan…”, o termo utilizado “billionaire” nos Estados Unidos da América, afinal traduzido para a língua de Camões seria “o jogador dos Chicago Bulls o milionário Michael Jordan…”, uma palavra apenas faz toda a diferença. Dizer billionaire (USA) e milionário (em Portugal e na Europa) é a mesma coisa. Esta personalidade tem biliões nos EUA mas na Europa e, em particular em Portugal tem apenas (e já não é pouco) mil milhões de dólares (Ver reportagem RTP).




A IX Conferência Geral dos Pesos e Medidas, reunida em 1948, aconselhou a adopção da regra 6N nos países europeus, alinhando pelo sistema britânico de então. De acordo com essa regra, há uma nova designação sempre que se acrescentam mais seis zeros a um número. Ou seja, um bilião é um milhão de milhões e um trilião um milhão de biliões. A norma portuguesa (1960) «Nomenclatura dos Grandes Números» consagrou essa recomendação. O Código de Redacção Interinstitucional segue a norma portuguesa.


Por isso, quando se fala deste problema a uma pessoa que tenha tido a sua escola primária anterior aos anos sessenta, ou seja, alguém que tenha hoje mais de sessenta anos de idade, a sua reacção é de afirmar que mil milhões é um bilião. Foi assim que o ensinaram, foi assim que aprenderam. É mais ou menos como com o novo acordo ortográfico, e.g., a palavra “directo” ou “direto”. Bem ou mal alguém decidiu por 10,5 milhões de portugueses e, a partir de agora tem de se cumprir, senão incorremos num erro gramatical.


Voltando ao caso do bilião ou de mil milhões o caso pode ter consequências mais graves do que um simples erro gramatical, senão vejamos uma frase inventada com origem numa agência Americana:“Portugal has a debt of a 120 billion dollars”. A tradução para a português terá de ser “Portugal tem uma dívida externa de 120 mil milhões de dólares.” Imaginem que alguém na sua boa fé traduzia erradamente esta simples e aparentemente inofensiva frase para “Portugal tem uma dívida externa de 120 biliões de dólares”. Nem a Troika nos safava. Usando um pouco de ironia, não é muita a diferença…são só mil vezes mais. Na prática Portugal devia ao exterior a mesma quantia multiplicada por mil. Para verem a diferença, suponhamos um jogador de futebol dos melhores do mundo que ganhe 1 milhão de euros  por mês, não é muito difícil encontrar alguns jogadores com este ordenado mensal, agora imagine um trabalhador em Portugal que ganha 1000 euros mensais. Também não é difícil de encontrar. O jogador ganha mil vezes mais que um trabalhador normal. As razões são iguais. Um bilião está para mil milhões assim como um milhão está para 1000.


Não há dúvida que a matemática é fascinante. O frade e matemático inglês do séc. XIII Roger Bacon tinha toda a razão quando dizia que “a matemática é a porta e a chave para as outras ciências”. A matemática e os seus números levam-nos até ao infinito.



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Publicado/editado: 10/11/2011