Se e Só Se por José Carlos Pereira

Eixos de Opinião outubro de 2014

               


Nesta coluna pretendo partilhar todos os meses a minha opinião sobre questões relacionadas com a Matemática e com o seu ensino. Os leitores são convidados a comentar, com argumentos a favor ou contra, aliás é esse o objectivo desta coluna: discutir diferentes pontos de vista sobre o tema do artigo (dia 3 de cada mês).


José Carlos da Silva Pereira – Professor de Matemática, autor de livros escolares e responsável pelo site Recursos para Matemática. Ler artigos anteriores aqui.



Se e Só Se por José Carlos Pereira

Artigo de novembro de 2014

Clube de Matemática SPM

Facebook Clube SPM


Título:  O “Medo” da Tecnologia no Ensino da Matemática?



Certamente que o leitor reparou que a palavra medo aparece entre aspas no título deste artigo. A razão é simples: não é o medo, é mais desconfiança ou resistência ao uso da tecnologia, principalmente quando aparece algo de novo nesta área.

Há uns dias foi anunciada uma nova aplicação para smartphone, o Photomath, que ainda só está disponível para os sistemas operativos iOS e WindowsPhone (para o sistema Android estará disponível em 2015). Esta aplicação permite resolver problemas simples de Matemática, por exemplo, determinar o valor de expressões do tipo 1/2+3/5-32 ou resolver equações de primeiro grau. Mais que indicar a solução final, o Photomath apresenta todos os passos a percorrer até chegar a essa solução. 

Imediatamente após a sua divulgação surgiram as primeiras preocupações e também as primeiras questões: será benéfica? Devemos deixar os nossos alunos usá-la? 

A minha resposta é sim, claramente sim a ambas as perguntas. Passo a explicar as minhas razões.

Vivemos num mundo altamente tecnológico, em casa ou na rua os alunos estão rodeados de tecnologia. A escola não pode viver num mundo à parte, ignorando o que se passa do outro lado dos seus portões. Obviamente que muitos alunos usam-na mal, em especial a calculadora (tantas vezes diabolizada e responsabilizada por muitos dos males do ensino da Matemática, em meu entender, injustamente, pois o problema não estará no uso mas sim no mau uso da calculadora). Nenhum aluno poderá aprender apenas porque tem ao seu dispor alguma tecnologia (ou alguém) a fazer as coisas por ele, mas a cultura do esforço e do empenho não pode nem deve marginalizar a tecnologia. Cabe-nos a nós, professores, ensiná-los a utilizar correctamente as tecnologias que têm ao seu alcance. Devemos orientar, monitorizar, aconselhar e demonstrar como a podem usar de forma a beneficiar as suas aprendizagens. Devemos estimular o seu (dos alunos) espírito crítico e alertá-los para não acreditar cegamente no resultado que aparece no ecrã. Se o fizermos, os benefícios serão muitos e bons para todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. 

No caso particular do Photomath, a única desvantagem é aquela que possivelmente estão a pensar: usarem esta plataforma de forma errada, por exemplo, para realizar um trabalho de casa sem qualquer esforço. Essa é uma possibilidade real, não há dúvida. No entanto, a vantagem de poderem verificar um cálculo ou de detectarem erros no seu raciocínio, supera, em larga medida, a desvantagem citada. Não é muito diferente de o aluno ter à sua disposição a resolução de um exercício, quer seja num livro, na internet ou mesmo um explicador que a forneça. Desde que faça primeiro e verifique depois a correcção do que acabou de fazer, será sempre uma mais-valia. Essa deve ser a nossa mensagem. 

Os procedimentos matemáticos do Photomath têm ainda muitas limitações. Neste momento o seu uso é indicado preferencialmente para o Ensino Básico. No futuro é de prever que a aplicação evolua e que venha a permitir outro tipo de cálculos mais elaborados. Não seria vantajoso se um aluno pudesse, à distância de uma foto, verificar se a equação com logaritmos que acabou de resolver está correcta e, caso não esteja, detectar onde errou? 

Em suma, esta aplicação, quando bem usada, poderá contribuir para uma evolução positiva das aprendizagens, além de promover a autonomia, algo que eu considero muito importante!       

Por fim, podem ler aqui o artigo do professor Alexandre Trocado sobre esta aplicação e podem ver aqui o Photomath em acção.   

E o leitor, o que acha desta nova aplicação? O que pensa da utilização as tecnologias no ensino da Matemática?

Publicado/editado: 05/11/2014