Se e Só Se por José Carlos Pereira

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião outubro de 2015

               


Nesta coluna pretendo partilhar todos os meses a minha opinião sobre questões relacionadas com a Matemática e com o seu ensino. Os leitores são convidados a comentar, com argumentos a favor ou contra, aliás é esse o objectivo desta coluna: discutir diferentes pontos de vista sobre o tema do artigo (dia 3 de cada mês).


José Carlos da Silva Pereira – Professor de Matemática, autor de livros escolares e responsável pelo site Recursos para Matemática. Ler artigos anteriores aqui.



Se e Só Se por José Carlos Pereira - Nova realidade

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião outubro de 2015

 

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Título: Nova Realidade

A entrada em vigor neste ano lectivo do novo Programa de Matemática A para o Ensino Secundário (PMES) marca uma nova realidade neste ciclo de escolaridade. 

A proposta do novo PMES foi tornada pública em meados do primeiro período do ano lectivo 2013/2014. Foi aprovado durante o ano de 2014, num processo muito rápido. A discussão pública limitou-se temporalmente a cerca de um mês, o que não deixou margem quase nenhuma para a sua análise e apresentação de contribuições válidas.

Uma boa parte da comunidade de professores de Matemática, na qual eu me incluo, considerou que a mudança foi para pior. As principais críticas são a sua extensão, tornando-o impossível de cumprir; está assente num formalismo exagerado, só ao alcance de alguns alunos; eliminação quase completa das novas tecnologias, nomeadamente, da calculadora gráfica, o que, tendo em conta o tempo em que vivemos, não deixa de ser uma contradição. Eu acrescentaria ainda que as desistências a Matemática A e as fugas para outras áreas sem a Matemática A serão uma realidade. A médio e a longo prazo a falta de alunos nos cursos científico-tecnológicos do Ensino Secundário será um problema: menos alunos a seguir e a concluir esta via, implica menos alunos a concorrer a cursos de Engenharia, Matemática ou Física, por exemplo.  

Este ano, em particular, acresce-se uma dificuldade suplementar: não existe continuidade pedagógica, isto é, os alunos que iniciam o seu percurso escolar no Ensino Secundário estudaram, no 9.º ano, pelo Programa de Matemática Ensino Básico ainda sem as Metas Curriculares, que assenta numa filosofia e abordagem completamente distintas daquele que com que irão deparar-se a partir daqui. Por essa razão, as naturais dificuldades que os alunos sentiam na passagem do 9.º ano para o 10.º ano serão ainda maiores. 

Não quero com isto tudo dizer que sou contra a mudança de programas. Em minha opinião a revisão periódica dos currículos é útil e benéfica e portanto, deve ser feita. Porém, não pode ser feita desta forma, sem avaliar o que foi feito no passado e sem testar o que se propõe para o futuro.

Neste momento o novo PMES já está em vigor e a não ser que haja outra mudança num futuro próximo, ou como escreve o Paulo Correia no seu último artigo, a não ser que haja “instabilidade da boa”, é com ele que teremos de trabalhar nos próximos tempos. 

Assim sendo, muitas são as dúvidas quanto ao Exame Nacional de Matemática A de 2018 que, na verdade, começa a ser preparado já este ano lectivo, no 10.º ano. Até aqui, professores e alunos sabiam que podiam aprofundar menos alguns conteúdos do programa pois tinham um peso reduzido, ou não constavam sequer, na prova de exame nacional e reforçar o estudo de conteúdos com um maior peso. Devido à extensão do novo programa, que dificilmente será completamente exequível, muitos colegas tentam adivinhar que conteúdos são mais relevantes e quais os que devem dar mais atenção. Nesse sentido, em meu entender, seria útil que se divulgasse já o documento com as informações para o Exame Nacional de Matemática A de 2018 e pelo menos uma prova modelo. O regresso dos testes intermédios também deveria ser equacionado. Esta seria uma ajuda preciosa para os professores, mas principalmente para os alunos. Por uma questão de justiça em relação aos colegas de anos anteriores, também os alunos que iniciam este ano o seu caminho no Ensino Secundário deverão saber exactamente com o que contar; parece-me justo e de elementar bom-senso.

É verdade que o Instituto de Avaliação Educacional (IAVE, ex-GAVE) já foi criticado por muitas vezes por os seus documentos com informações para os exames se sobreporem aos próprios programas das várias disciplinas (em rigor, é a Direcção Geral de Educação que define os conteúdos do exames, mas é o IAVE que os publica). Todavia, também não deixa de ser verdade que essas informações são uma orientação para quem ensina e para quem é ensinado. É claro que ao publicar já o documento com as informações para o Exame Nacional de Matemática A de 2018 poderá estar a “encorajar-se” a “negligência” de alguns conteúdos do novo programa. Aceito essa crítica, mas não é isso que tem acontecido até agora? Não é o que tem acontecido com os temas da Estatística, das Sucessões ou da Programação Linear? Mesmo que inconscientemente, tem sido dada menos importância a estes temas, porque poucas vezes saem itens com estes conteúdos no exame nacional da disciplina de Matemática A!

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Publicado/editado: 03/10/2015