Integrando por José V. de Faria

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião novembro de 2015

 


Neste espaço propomo-nos disponibilizar pequenos artigos que forneçam um complemento de formação aos alunos do secundário para que entrem no Ensino Superior mais preparados/motivados  na área da Matemática, ou artigos que sejam uma reflexão (que poderá aparecer sob a forma de entrevista) sobre o ensino da Matemática ou a vida nas escolas ou o papel que estas desempenham no desenvolvimento do País sempre com o objectivo de ajudar a integrar o aluno com a sua formação matemática, o aluno com os professores, ambos com a Escola e esta com o País.                                        

José Veiga de Faria - Professor de Matemática                                         


Integrando por José Veiga de Faria - Cédric Villani em Lisboa: Breves Apontamentos

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião novembro de 2015     

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Nota inicial: Este mês interrompemos a sequência de artigos sobre a caça que Newton deu a Chaloner como Diretor da Real Casa da Moeda: contamos retomar no próximo mês.


Título: Cédric Villani em Lisboa: Breves Apontamentos




Esta semana tivemos o privilégio de assistir a dois eventos onde a figura central foi um dos maiores matemáticos da atualidade: Cédric Villani Medalha Fields 2010 e Diretor do Instituto Poincaré um dos maiores centros de investigação em Matemática a nível mundial.

Como pensamos que podem ser de grande interesse para os nossos leitores deixamos aqui alguns breves apontamentos.

Terça-feira

Lançamento da versão portuguesa do livro ”Teorema Vivo” edição Gradiva

Cédric Villani consegue falar com extrema simplicidade sobre os temas mais variados e difíceis; e sempre com uma notável profundidade. Sente-se que se está perante um génio com uma intensidade de pensamento notável.

Explicou como surgiu o livro: num jantar em Paris um editor, que jantava numa mesa ao lado, perguntou quem era aquela pessoa, com vestimenta original, que usava uma aranha na lapela. Quando lhe disseram que era um notável matemático que tinha ganho a Medalha Fields quis logo conhecê-lo. Conversaram e o editor disse-lhe que gostaria de fazer um livro sobre como era a vida de um matemático.

Isso deixou Villani a pensar. Será que lhes ia contar o seu dia a dia? Não parecia interessante.

Acabou por contar a aventura da sua mente na procura de uma demonstração para o resultado que lhe deu a Medalha Fields. É essa aventura que o leitor pode ler em “Teorema Vivo”.

E agora reflexões e respostas a duas ou três questões que lhe foram colocadas:

Sobre o trabalho matemático:

Há atualmente tantos matemáticos produtivos como todos os que existiram até à data.
A procura de carreiras científicas está a diminuir ao mesmo tempo que a necessidade de pessoas com esta formação não para de aumentar nas sociedades modernas.

Sobre o conhecimento matemático:

A pergunta: Ainda há coisas novas a descobrir em matemática?

A resposta: Imaginem um balão onde o seu interior é o conhecido, o exterior o desconhecido (infinito, ilimitado) e na superfície os problemas em aberto. Se insuflarem o balão, aumentando o conhecimento, o desconhecido continua infinito e os problemas em aberto, superfície do balão, aumentaram. É o que se passa hoje: há mais problemas em aberto do que jamais houve.

Quinta-feira
Conversa com o público no Centro Cultural de Cascais

Pergunta: Como ajudar os jovens com dificuldade em Matemática?

Resposta: Em geral os jovens sentem-se tolhidos perante um problema porque não conseguem dar o primeiro passo: o medo de errar tolhe-os. A melhor forma de contornar isto é recorrer a histórias e jogos que captam o seu interesse e onde, envolvendo-se, conseguem exercitar as suas capacidades. 
Também sugeriu que o professor se envolvesse com os alunos na busca de uma solução para um problema, sugerindo ângulos de ataque, pensando em conjunto, avaliando vantagens e inconvenientes das linhas de pensamento: de uma forma estimulante para o aluno sentir que estava a conseguir avançar. Confrontá-los com soluções acabadas? Má ideia.

Pergunta: O que recomendaria para melhorar o nível da aprendizagem matemática no secundário?

Resposta (depois de pensar intensamente):
- Quantos de vocês já fizeram um programa informático? perguntou dirigindo-se a grande número de alunos, penso que do St Julian School.

Só um levantou o dedo.
- Pois todos deveriam já ter feito um programa. Um programa tem muito de parecido com uma demonstração matemática e a experiência de programar pode trazer uma melhoria importante na qualidade da aprendizagem do aluno.

Uma nota minha: isto deveria merecer toda a atenção dos responsáveis pelos curricula da disciplina.

No fim:

Atrevi-me a pedir-lhe um problema para a rubrica do Clube. 

Perguntou-me o nível e eu falei-lhe no secundário. Estava com pouco tempo e em poucos segundos disse em mais ou menos estas palavras


Este é um problema que, quando era jovem, me levou um ano a resolver:

“Se, na série harmónica1, suprimirmos todos os termos onde há um zero a divergência mantém-se?”

Um desafio para professores e alunos geniais de Cálculo. 

Se conseguir resolver agradecemos que nos envie a resolução para:
                                                   

jvf.ClubeMat.SPM@gmail.com





Publicado/editado: 16/11/2015