Se e Só Se por José Carlos Pereira

Eixos de Opinião outubro 2013

               


Nesta coluna pretendo partilhar todos os meses a minha opinião sobre questões relacionadas com a Matemática e com o seu ensino. Os leitores são convidados a comentar, com argumentos a favor ou contra, aliás é esse o objectivo desta coluna: discutir diferentes pontos de vista sobre o tema do artigo (dia 3 de cada mês).


José Carlos da Silva Pereira – Professor de Matemática, autor de livros escolares e responsável pelo site Recursos para Matemática.


Se e Só Se por José Carlos Pereira

Artigo de outubro de  2013

Clube de Matemática SPM

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Título: As Explicações na Disciplina de Matemática


Nos últimos anos assistiu-se a um aumento da oferta e da procura de explicações de várias disciplinas. Contudo, neste artigo, irei focar-me apenas na Matemática.
Longe vão os tempos em que a oferta era escassa e normalmente a preços muito elevados. Lembro-me que procurei um explicador quando frequentei o meu 12.º Ano, mas o valor que me foi pedido era proibitivo. Actualmente a oferta é muita e variada, por exemplo, na localidade onde habito existem mais de dez centros ou salas de estudos, excluindo os professores que dão explicações em casa. A oferta vai desde explicações individuais, em grupo até grupos de estudo. Há ainda quem ofereça explicações online, via skype. Enfim, uma infinidade de possibilidades. É por essa razão que é possível encontrar exactamente o que se procura a preços muito razoáveis e em alguns casos, abaixo do razoável. 
Mas por que razão hoje em dia existe uma oferta e uma procura tão alargada de explicações de Matemática? 
Há vários factores que podem ajudar a responder a esta questão, senão vejamos: 
Que eu tenha conhecimento não existe nada que regule a actividade, qualquer pessoa a pode exercer da maneira que achar melhor. O único constrangimento que conheço é a proibição de os professores darem explicações a alunos do mesmo agrupamento onde leccionam. 
Depois há o facto de muitos professores estarem desempregados e, naturalmente, recorrerem às explicações para terem algum rendimento. Não podemos ignorar o facto de haver vários outros profissionais de áreas tão diversas como a Engenharia ou a Economia, por exemplo, que também optam pelas explicações.
Por fim, não é muito complicado abrir uma sala de estudo ou começar a dar explicações em casa. Normalmente abrir uma actividade nas finanças é o suficiente e depois, para quem quiser exercer a sua actividade numa sala de estudo, só terá que cumprir todas as formalidades de ter uma loja aberta ao público. 
Parece-me óbvio que, apesar dos tempos conturbados que vivemos, a disponibilidade financeira das famílias é maior que há vinte anos atrás, e portanto existe maior facilidade em colocar os filhos em explicações.
É do conhecimento geral que as explicações de Matemática são as mais procuradas. Porquê? Será mesmo necessário um aluno recorrer às explicações para ter sucesso na disciplina?
Não tenhamos ilusões. Apesar de haver matérias na Matemática que são fáceis ou que não são muitos difíceis de compreender, em geral, a Matemática é difícil. Essa dificuldade vem de uma característica muito particular – tem um carácter cumulativo que exige um trabalho sério e continuado. Por exemplo, não é possível perceber a noção de derivada sem entender a noção de limite e não é possível entender a noção de limite sem perceber a noção de sucessão. Na Matemática as matérias são como os degraus de uma escada, sucedem-se umas às outras, sendo que para chegar ao topo é necessário passar por todos os degraus, sem saltar nenhum. Essa é talvez a razão pela qual as explicações de Matemática são as mais procuradas. 
Constata-se também que essa procura começa cada vez mais cedo e por todo o tipo de alunos. Se no passado só os alunos com mais dificuldade e só no secundário recorriam às explicações, presentemente, mesmo os melhores alunos recorrem à ajuda de um explicador para chegar à nota que pretendem e em anos cada vez mais precoces, muitos logo no 5.º Ano e alguns mesmo no 1.º ciclo. 
Acredito que as explicações de Matemática podem ser uma ferramenta importante para o sucesso de um aluno. Muitas vezes há pormenores que passam despercebidos na aula e isto não constitui uma crítica aos professores. Com turmas cada vez maiores, torna-se difícil chegar a todos da mesma maneira. Já um explicador, que trabalha individualmente com o aluno ou em pequeno grupo, pode facilmente colmatar essas falhas, alertando para os pormenores, propondo novos problemas e fazendo o possível para que o aluno consiga atingir os seus objectivos. As explicações não substituem as aulas, apenas as complementam. Um explicador nunca deve ter a pretensão de substituir o professor nas suas tarefas. Os dois podem e devem trabalhar em conjunto para promover o sucesso do aluno de que são responsáveis. 
Não nos podemos esquecer que aliado a este trabalho conjunto entre professor e explicador, é necessário grande empenho e dedicação por parte do aluno. Só assim aumentarão as suas probabilidades de sucesso.
E o leitor, qual é a sua opinião?


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Publicado/editado: 02/10/2013