Mário Daniel (Mágico) - Entrevistado clube spm de fevereiro de 2015

Clube Matemática da SPM - Clube Entrevista
Mário Daniel é o convidado do clube spm de fevereiro de 2015. Os próximos momentos serão minutos mágicos de pura ilusão que vão desde a infância, a família, a escola, a magia onde teremos um grande coelho a sair da cartola que é a matemática. Numa entrevista fora do baralho percebemos a razão pelo qual o nosso entrevistado é um caso notável em Portugal. Estes são os traços geométricos de uma entrevista que vai muito além de um simples toque mágico. Sem truques…

Nasceu na Régua em 1980. O que guarda na “Caixa Mágica” sobre a sua infância? 
 
O facto de ter morado numa cidade pequena, permitiu que eu, os meus irmãos e amigos pudéssemos usufruir de uma liberdade pouco comum dos grandes centros. Brincávamos imenso ao ar livre, pratiquei várias modalidades desportivas federado e fazia muito exercício físico, andava de patins nas garagens do prédio onde habitava, jogava futebol, andava de bicicleta… Em casa tive a sorte de ter uma família que desde cedo fazia questão de viajar para nos mostrar (a mim e aos meus irmãos) a beleza e riqueza cultural do nosso país, que nos motivava para a importância dos estudos, mas que também nos deixava brincar. Almoçávamos e jantávamos sempre juntos. Posso dizer que tive uma infância muito feliz.

Gostava de matemática na escola? O truque para a perceber era… 
Por vezes o truque era mesmo um berro do professor! Sempre fui irrequieto apesar de educado. Era um aluno regular e dependendo das matérias cheguei a gostar e a detestar a matemática. O melhor truque para aprender era gostar da forma com que o professor lidava com os alunos. Se o professor me cativasse fazia um esforço maior para não o desiludir nos momentos de avaliação. 

Com 6 anos deram-lhe uma pequena caixa mágica. Foi aí que começou a ilusão de uma vida? 
Foram três as “chaves” que abriram essa porta para o mundo mágico. Recordo cada uma delas sem nunca perceber qual foi a mais importante. O primeiro contato que me recordo de ter com a arte da magia foi aos sete anos de idade. Andava na escola primária e quando as aulas terminavam ia para o espaço de trabalho do meu pai, um laboratório de análises clínicas, onde um dos seus sócios me fazia alguns truques, que ainda hoje recordo na perfeição. Apesar de nessa altura ser ainda muito novo esses momentos fascinaram-me em relação a esta arte. O segundo momento marcante foi quando recebi de prenda de Natal, a referida caixa mágica e estudei os truques afincadamente… até perder as peças todas! O último momento que definiu esse amor pela magia foi quando aos 12 anos um amigo levou um livro de magia para a escola, depois de o ler, a magia já não deixou de fazer parte da minha vida. 

Ser mágico é… 
A palavra magia é utilizada de forma comum para descrever o que não é de todo comum. É utilizada para descrever sentimentos e emoções que são difíceis de definir por outras palavras. Normalmente descreve algo que transcende a lógica e a razão mas que de certa forma liga o cérebro e o coração. Os ilusionistas tentam criar ou reproduzir momentos que não têm explicação, no entanto não acho que isso baste para se “ser mágico”. Acredito que é possível “ser mágico “ a fazer ilusionismo, mas só quando conseguimos que o público por alguns segundos acredite verdadeiramente na ilusão.  

A geometria dos seus truques e a interpretação que lhes dá serão a solução do seu sucesso? 
A interpretação é o condimento que faz toda a diferença em qualquer arte. Acredito que o público sente a entrega e paixão do artista e que isso faz toda a diferença no nível de envolvimento a que cada espetador se deixa levar. Não importa se uma ilusão é mais complexa ou mais simples, mas importa se toda a apresentação é verosímil, se as palavras e gestos usados fazem sentido naquele mundo imaginário. A mensagem deve ser o mais clara possível para que o público possa ficar cada vez mais embrenhado na narrativa. O mesmo acontece num filme, num espetáculo de comédia ou numa canção. Os espetadores só ficam realmente concentrados no que está a acontecer se cada palavra ou gesto fizerem sentido naquele contexto. Para que isso aconteça o primeiro a ter que acreditar/sentir é o próprio intérprete.  

O matemático Aristóteles disse que “somos aquilo que fazemos repetidamente”. A magia parte deste princípio? 
A magia parte muito desse princípio. Cada ilusão é composta por um conjunto de técnicas, e para que cada técnica seja executada na perfeição são necessárias centenas ou mesmo milhares de repetições até que a execução da técnica seja feita de forma “automática”. Para que uma ilusão seja bem apresentada o mágico deverá ter toda a sua concentração na interpretação, não na técnica…  

O professor de matemática faz magia, cria ilusões, baralha emoções na sala de aula tal como o mágico? Será que é uma boa analogia?
Sim. Penso que muitos dos aspetos que definem um bom professor são comuns aos que definem um bom mágico. Nomeadamente serem bons comunicadores, serem apaixonados pelo que fazem, saberem interpretar os sinais do seu “público”. 

É licenciado em Educação Física. Esta área está “Fora do Baralho”? 
Em termos profissionais a Educação Física está completamente “Fora do Baralho”. Em termos pessoais a prática desportiva continua a ser uma das minhas grandes paixões. O ténis, o mergulho, a caça submarina fazem parte dos meus “hobbies” regulares. Não abdico do lema “Mente sã em corpo são” e acredito que há muito a aprender com a prática do desporto e que nos é tão útil tanto na vida pessoal como na profissional. Lamentavelmente ao nível da educação escolar a Educação Física continua a ser considerada uma disciplina de segunda.
O que ainda não está “Fora do Baralho” é o meu espetáculo ao vivo com que tenho feito digressão pelos teatros e auditórios de todo o país! O espetáculo tem esse nome por ser uma abordagem completamente original, nada convencional, daquilo que costuma ser um espetáculo de magia. O espetáculo junta Teatro Comédia com Magia, envolve outros atores e uma cenografia espetacular. Neste espetáculo a magia surge fundamentada, inserida numa história, motivada por uma sequência de conflitos, o que permite que o público se envolva nos “truques” e assim possa experienciar verdadeira magia. É um espetáculo para toda a família! Depois de termos esgotado todas as sessões no passado mês de Setembro, no Teatro da Trindade, em Lisboa, regressamos à mesma sala de 26 de Fevereiro a 8 de Março. Os bilhetes estão já disponíveis no Teatro da Trindade, na Ticketline e locais habituais.

A sua vida teve “Minutos Mágicos”
que levaram muitas semanas a preparar?
Sim. O programa “Minutos Mágicos” que as empresas “Mário Daniel Produções” e “Ideias com Pernas” produzem para a SIC levou realmente muitas semanas a preparar. Fizemos 36 episódios de 40/45 minutos, em cidades diferentes, por todo o país. Ensaiei e gravei, até agora, cerca de 270 truques diferentes. Mas tenho a sorte de ter uma equipa incrível, a nível pessoal e profissional, que fazem com que este programa tenha o sucesso que tem. Cada episódio demora em média 5 dias a preparar, 4 dias a gravar e duas semanas a editar! É difícil transmitir o rigor com que tentamos trabalhar. Não utilizamos atores, nem nenhum truque está previamente combinado com ninguém, ao contrário do que se faz em muitos programas do mesmo género lá fora. Mas é isso que faz com que tudo pareça tão natural…

A família, a sua mulher, a equipa que trabalha consigo diariamente são muito importantes. Aqui não há truques…
Sem dúvida, eu represento o somatório de uma excelente equipa. A Cláudia Pedrosa (minha mulher) é a minha produtora, é por ela que passa toda a organização necessária para que cada espetáculo aconteça, para além dela, trabalho regularmente com o meu diretor técnico que monta e opera som e luz nos espetáculos, um serralheiro, um carpinteiro, um engenheiro eletrotécnico, aderecistas, compositor, cenógrafo e uma assessora de imprensa. Em todas as necessidades multimédia trabalho com a empresa que já referi anteriormente, a Ideias com Pernas.

Albert Einstein referiu “a imaginação é mais importante que o saber”. Verdade?
Sim. Acredito que a imaginação é o elemento diferenciador. Todos podemos estudar e aprender qualquer coisa mas é a imaginação de cada um que poderá acrescentar algo de novo. O resto, com mais ou menos qualidade, é apenas uma repetição. 

O matemático húngaro Alfred Rényi disse que "quando estou infeliz trabalho matemática para ficar feliz. Quando estou feliz, trabalho matemática para me manter feliz". Quando se fala consigo não é preciso ser mágico para perceber que é muito feliz a fazer magia porque…
São muitos os fatores que me fazem amar a arte da magia, mas principalmente, gosto do que faço porque me fascina a ideia de transportar os espetadores, por alguns minutos, para um mundo em que tudo parece possível. Diverti-los com isso diverte-me a mim também. 

 
  Por Carlos Marinho
 
Publicado/editado: 01/02/2015