Se e Só Se por José Carlos Pereira

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião julho de 2015

               


Nesta coluna pretendo partilhar todos os meses a minha opinião sobre questões relacionadas com a Matemática e com o seu ensino. Os leitores são convidados a comentar, com argumentos a favor ou contra, aliás é esse o objectivo desta coluna: discutir diferentes pontos de vista sobre o tema do artigo (dia 3 de cada mês).


José Carlos da Silva Pereira – Professor de Matemática, autor de livros escolares e responsável pelo site Recursos para Matemática. Ler artigos anteriores aqui.



Se e Só Se por José Carlos Pereira - Livros Para Ler Nas Férias - Dia 3

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião julho de 2015

 

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Título: Livros Para Ler Nas Férias

Durante o ano lectivo raramente tenho tempo para pegar num livro e lê-lo do princípio ao fim. É durante as férias de Verão que coloco, dentro do possível, as minhas leituras em dia e que leio os livros que vou adquirindo ao longo do ano. Sou fã dos livros científicos que a Editora Gradiva publica, em particular das colecções “Ciência Aberta” e “O Prazer da Matemática”, das quais possuo inúmeros títulos. São colecções vivas, no sentido que são regularmente aumentadas.  

Há quem não goste de escrever nos livros, como é o meu caso, mas a verdade é que há quem o faça. Pierre de Fermat fê-lo. Numa das margens do livro “Arithmetica”, escrito pelo matemático grego Diofanto, escreveu a seguinte nota em latim:

“Por outro lado, é impossível separar um cubo em dois cubos, ou um biquadrado em dois biquadrados, ou, em geral, qualquer potência, excepto um quadrado, em duas potências com o mesmo expoente. Descobri uma maravilhosa prova disso, que, no entanto, não cabe nas margens deste livro.”

Foi com estas palavras que Fermat deu o mote para a busca incessante por uma demonstração para aquele que ficou conhecido como o “último teorema de Fermat”. Durante muito tempo a sua prova foi considerada como o Santo Graal de Matemática e quem a conseguisse seria elevado ao estatuto de realeza da Matemática. Durante mais de 300 anos os mais brilhantes matemáticos tentaram alcançar esse estatuto, mas todos falharam. Todos excepto um, Andrew Willes, professor na Universidade de Princeton, que durante sete anos trabalhou em exclusividade na demonstração do teorema. Conseguiu, mas não sem antes ter apanhado um valente susto: a primeira versão da demonstração continha um erro!

Apesar da extrema complexidade da sua demonstração, este teorema, da área da Matemática denominada por Teoria dos Números, enuncia-se de uma maneira muito simples: 


A equação xn+yn=zn  não tem soluções para  n>2, com x, y e z inteiros positivos.


No seu livro “O Último Teorema de Fermat”, Amir D. Aczel, descreve todos os episódios e contributos que conduziram à demonstração deste teorema. É verdade que a maior fatia dos louros coube a Willes, todavia, vários foram os matemáticos que contribuíram para que Willes pudesse ser bem-sucedido. Se o leitor estiver interessado em conhecer tudo o que envolve a demonstração deste famoso teorema, recomendo a leitura deste livro.  

 

Um outro livro da colecção “Ciência Aberta” de que gosto muito tem o título “O Homem Que Só Gostava de Números”, de Paul Hoffman. O homem que só gostava de números era matemático de nacionalidade húngara, Paul Erdös. Foi um dos mais brilhantes e profícuos matemáticos de sempre. Paul Erdös era um homem peculiar, não tinha esposa, casa ou carro. Tinha muito poucos pertences, que cabiam numa pequena mala de viagem. O seu amigo e também matemático, Ronald Graham, tratava de todas as questões quotidianas da sua vida. Erdös não podia perder tempo com tarefas menores, optimizou a sua vida de modo a poder dedicar o maior tempo possível à Matemática, sendo usual os seus dias de trabalho terem 16, 17 ou 18 horas de duração. Neste contexto percebe-se a sua famosa citação: “Os matemáticos são máquinas de transformar café em teoremas”. Chamava “Supremo Fascista (S.F.)” a Deus, por achar que Ele guardava num livro as mais belas demonstrações de todos os teoremas. Tinha um modus operandi simples: apresentava-se à porta de um matemático amigo dizendo “o meu cérebro está aberto”! Depois trabalhavam intensamente durante um, dois ou três dias e quando se cansava ou quando se cansavam dele, seguia para a casa de outro matemático, repetindo o processo. Se o leitor quiser conhecer mais sobre a vida de Paul Erdös, aconselho vivamente a leitura deste livro.

O livro “O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias” foi o primeiro da colecção “Ciência Aberta” da autoria de Jorge Buescu. É um livro que reúne 35 textos do autor, muito bem escritos e de fácil leitura, sobre os mais variadíssimos temas, todos de divulgação científica e sendo a maioria sobre Matemática. A primeira vez que tive contacto com este livro ainda frequentava a Faculdade, estava no meu ano de estágio. Em boa hora o li, pois um dos textos foi essencial num trabalho que apresentei sobre Probabilidade Condicionada. O texto em questão conta uma deliciosa história envolvendo o problema de Monty Hall, uma mulher, que supostamente tinha o maior Q.I. do mundo e vários matemáticos, entre eles Paul Erdös. No primeiro texto é “revelada” a função daquele algarismo suplementar que aparece à direita no número do Bilhete de Identidade de cada cidadão. No meu caso em particular, esse número é o 4. Confesso que durante algum tempo acreditei que fosse o número de pessoas com o nome igual ao meu. Claro que não é! 

Depois deste primeiro livro, a colecção foi enriquecida com mais quatro obras do mesmo autor, todos na mesma linha do primeiro: 

                                            

Neste momento apenas me falta ler o último, “Primos Gémeos, Triângulos Curvos e Outras Histórias da Matemática”, leitura que será realizada este Verão. Desta editora vou ainda ler mais dois livros da colecção “O Prazer da Matemática“, “A Pérola de Euler” de David S. Richeson e “43 Miniaturas Matemáticas” de António Machiavelo, José Carlos Santos e João Nuno Tavares. Suspeito que vou gostar muito de ler os três!

            

E o leitor, que livro ou livros irá ler nas suas férias? Partilhe as suas preferências literárias no Facebook do Clube SPM.



Publicado/editado: 03/07/2015