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E a matemática pediu namoro à
poesia, mostrando-lhe todas as suas qualidades que passavam por sinais
aritméticos de riqueza, campos cheios de raízes quadradas e um coração
infinito, onde cabiam todos os números perfeitos, como convém a quem se
quer apaixonar. Ela, a poesia, achou-lhe graça. Encontrou-lhe alguma
métrica e deixou-se deslizar em hipérboles que sendo linguísticas a
levaram a exageros que nem o teorema de Pitágoras conseguira resolver.
As incógnitas desta relação eram muitas, atendendo às suas
personalidades ímpares, com números primos à mistura. Foram vivendo numa
matriz de entendimento construída por rimas pouco lógicas e amores em
fracções de denominador comum que sustentavam médias de paixão numa
POEMÁTICA difícil de teorizar…
Nuno
Guimarães - ex-engenheiro, leitor de Português nas Universidades de
Vilnius e de Vytautas Magnus (Kaunas), com manias de poeta…
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Título: Números em Catadupa
quando o silêncio invade
os domínios dos sentidos
o tempo para e se lava
nos neurónios esquecidos
esgotados pela vida
e os números em catadupa
caem do céu da boca
fazendo murmúrios na língua
que canta em lengalenga
as matemáticas idas
das contas do meu passado:
cinco amores
e muitas dores
sete vidas
poucos gatos
muitos ratos
nos retratos
roendo as sulfamidas
para almas possuídas
dois pudores
envergonhados
da lista dos dez melhores
duma revista estrangeira
três viagens
e bagagens
cheias de coisas menores
arrumadas à maneira
no comboio dos horrores
trinta e três
dizem doutores
nomeados desertores
das medicinas modernas
e um homem das cavernas
que quando o silêncio invade
os domínios dos sentidos
risca carneiros nas pedras
para não adormecer
em traços que são proibidos
e me vão endoidecer
Artigos de meses anteriores:
Artigo poemática de Dezembro - "Uma progressão de Natal"
Artigo poemática de novembro - "Números de Outono"
Artigo poemática de outubro - "Teorema dos Amor dos Conjuntos Infinitos"
Artigo poemática de setembro - "As Contas Todas"