Bits & Bytes por Alexandre Trocado - Vão os Exames Nacionais digitais trair os novos programas da Matemática?
Eixos de Opinião de Junho de 2022
Alexandre Trocado - Professor de Matemática (Ver +)
Título: Vão os Exames Nacionais digitais trair os novos programas da Matemática?
Sabemos as intenções da digitalização da avaliação externa nas escolas portuguesas nos próximos anos. Mas diversas interrogações se colocam, em particular, no caso da Matemática onde uma das principais preocupações é o tipo de perguntas que poderão ser colocadas.
Apenas escolhas múltiplas e resposta curta?
Não nos podemos esquecer que as novas Aprendizagens Essenciais implícita e explicitamente direcionam a essência o ensino da Matemática para uma abordagem que pretende verdadeiramente tirar partido de todas as potencialidades da tecnologia, como uma ferramenta auxiliar na aprendizagem da Matemática, e onde os seus principais objetivos são a resolução de problemas e o Pensamento Computacional.
E como se pode ser feita essa avaliação? Recorrendo a escolhas múltiplas ou a itens de resposta curta? Essa é uma possibilidade se observarmos a plataforma inicial criada para as Provas de Aferição (escolhendo Guest Access).
Como avaliar a resolução de problemas e o Pensamento Computacional? Através de itens de resposta curta ou escolhas múltiplas? Esta é a principal incógnita neste momento. Sabemos da dificuldade e morosidade da escrita de caracteres matemáticos no computador sendo este um forte entrave à implementação de resoluções extensas e um fator agravado pela ausência de prática. Com este forte entrave podemos questionar se os Exames Nacionais digitais se limitarão a desempenhar um papel semelhante aos exames de código da carta de condução deixando de fora a avaliação um dos principais objetivos das novas Aprendizagens Essenciais?
Quais as alternativas?
Num artigo que escrevi em 2019 são abordados os exames efetuados na Finlândia, os quais não se limitam a escolhas múltiplas ou respostas curtas. Aos alunos são fornecidas ferramentas matemáticas potentes, é solicitado que resolvam problemas exigentes e pedido que construam uma resposta completa tirando partido das potencialidades destas ferramentas. O sistema Abitti (sistema de avaliação Finlandês) começou a ser implementado nas escolas e na avaliação externa em 2016 por disciplina, tendo apenas chegado à Matemática em 2019. No entanto, a sua entrada em vigor foi planeada vários anos antes através da distribuição pelos professores. Estes foram ouvidos no seu desenvolvimento, dada a permissão para a criação de itens experimentais e a possibilidade de experimentação em sala de aula.
Sejamos justos, ainda não conhecemos qual será verdadeiramente o sistema de avaliação externa que será implementado em Portugal, mas as primeiras experiências dão indicações que poderá ser algo bastante limitado correndo-se o risco de na avaliação externa não ser cumprido o seu verdadeiro papel, que é avaliar o que deve ser avaliado.