Bits&Bytes por Alexandre Trocado - Que sinais nos dá a educação na Estónia?

Eixos de Opinião de Julho de 2021

Alexandre Trocado - Professor de Matemática (Ver +)


Título: Que sinais nos dá a educação na Estónia?

A Estónia é um pequeno país de pouco mais de um milhão de habitantes que faz fronteira com a Rússia, Letónia e fronteira marítima com a Finlândia. 
Dados bons resultados obtidos pelos seus estudantes no estudo internacional PISA 2018, sendo o país europeu melhor classificado logo a seguir a alguns países Asiáticos.

Que características distintas do nosso país tem a educação na Estónia?

Como início de análise vejamos um pequeno exemplo da calendarização escolar que, faz bastante diferença na gestão dos esforços do dia-a-dia. Neste calendário podemos observar uma melhor distribuição das pausas escolares impedindo grandes períodos consecutivos de aulas.

Calendário para o ano 2021-2022

Início: 1 de Setembro de 2021
Primeira pausa: 25 de outubro 2021 a 31 de outubro 2021
Segunda pausa: 23 de dezembro a 9 de janeiro de 2022
Terceira pausa: 28 de fevereiro de 2022 a 6 de março de 2022
Quarta pausa: 25 de abril de 2022 a 1 de maio de 2022
Quinta pausa: 14 de junho de 2022 a 31 de agosto de 2022

Algumas características do sistema educativo da Estónia:

  • Grande autonomia das escolas associada a um sistemático processo de auto-avaliação;
  • As escolas normalmente são das autarquias e os diretores têm autonomia para contratar e despedir professores, gerir o orçamento das escolas e avaliar a necessidade de formação dos professores;
  • A tecnologia é usada intensamente durante todo o processo educativo;
  • O uso da tecnologia é mais efetivo quando os professores têm mais formação;
  • Os professores passam 86% do seu tempo a leccionar quando a média dos professores da OCDE é 78%;
  • Todas as escolas dispõem de manuais escolares digitais e gratuitos, bancos de testes, e software de informação e comunicação casa-escola;
  • Desde o primeiro ano em grande parte das escolas é ensinado programação e robótica.

No caso particular da Matemática a Estónia a partir de 2013 introduziu um projeto piloto que pretendia abordar o tema da Estatística recorrendo exclusivamente a ferramentas computacionais e em cooperação com o Computer Based Math (CBM) introduzido por Conrad Wolfram. Este projeto, CBM, tem como base o recurso ao Pensamento Computacional, que se encontra actualmente na ordem do dia por integrar as novas aprendizagens essenciais propostas para todo o ensino básico em Portugal.

Em suma, podemos observar um país onde o uso da tecnologia é intensivo em todo o processo educativo, onde já foi experimentado o recurso ao Pensamento Computacional para além de todos os outros fatores enunciados anteriormente. 

Será que temos condições e devemos seguir o caminho da Estónia?

Penso que actualmente será difícil responder com certeza a esta pergunta, mas no caso particular da Matemática, numa sociedade cada vez mais digital cuja inteligência artificial se prepara para eliminar muitos empregos nos próximos anos, faz sentido promover a autonomia do aluno na resolução de problemas recorrendo a ferramentas que lhe facilitam a vida em termos de tempo e fiabilidade, lhe permitem resolver problemas impossíveis de resolver sem o recurso a computadores, assim como lhe libertam tempo para as restantes etapas, que ainda não são automatizáveis.

Referências
Computer Based Math
Estonia: A positive PISA experience
Changing mathematics education in Estonia

Publicado/editado: 26/07/2021