Bits&Bytes por Alexandre Trocado - Tempo de ecrã nas crianças

Eixos de Opinião de Outubro de 2019

Alexandre Trocado - Professor de Matemática (Ver +)


Título: Tempo de ecrã nas crianças

Ao contrário do que se julga ser verdade e que a grande maioria dos estudos efetuados tende a concluir, no passado mês de agosto foi publicado um estudo no Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psyquiatry que analisa a relação entre o tempo de ecrã (tv, tablet/telemóvel e computador) e o desenvolvimento psicossocial da crianças.

Segundo a American Academy of Pediatrics os bebés não devem ter qualquer exposição a ecrãs para além de eventuais e inofensivas vídeo-chamadas, por outro lado as crianças entre os 18 meses e os 24 meses poderão ter tempo de ecrã desde que devidamente acompanhadas por um adulto e em programas de qualidade. Em relação às crianças entre os 2 e os 5 anos o tempo de ecrã deverá ser limitado a uma hora por dia com programas de qualidade.

Este estudo, realizado por Andrew Przybylski do Oxford Internet Institute entre outros, vem de alguma forma contrariar algumas das ideias actuais. Após serem analisados dados de 35000 crianças americanas e seus cuidadores, o estudo conclui que as crianças que passam entre uma e duas horas diárias em frente a um ecrã de tv ou de um dispositivo digital demonstram um maior nível de desenvolvimento psicossocial em relação às que não usam, isto é, um maior nível social, emocional e de bem-estar.

Para além desta significativa conclusão no estudo ainda é possível destacar alguns dados curiosos em relação ao dia-a-dia das crianças:

em média passam 1h41min em atividades baseadas na televisão tais como jogos de consola ou mesmo vendo filmes;

em média passam 1h53min atividades baseadas no uso de tablets e smartphones;

as crianças poderão desenvolver até 4h diárias de atividades baseadas na tv sem que se verifiquem significativas alterações do funcionamento psicossocial;

as crianças poderão desenvolver até 5h diárias de atividades baseadas no uso de tablets e smartphones sem que exibam significativas alterações do seu funcionamento psicossocial.

Segundo referiu o professor Andrew Przybylski na apresentação deste estudo na Universidade de Oxford, todos estes dispositivos fazem parte do dia-a-dia na sociedade atual e muito poucas crianças, se eventualmente houver algumas, desenvolverão diariamente atividades durante tanto tempo que seja significativo para se notar alguma alteração no seu desenvolvimento psicossocial.

É evidente que uma atitude prudente por parte dos pais e cuidadores não será prejudicial ao desenvolvimento da criança. No entanto, os benefícios do tempo de ecrã controlado (entre uma e duas horas diárias) são evidentes numa época em que nos países mais desenvolvidos se torna cada vez mais difícil fugir ao tempo de ecrã.

Publicado/editado: 26/10/2019