Contos de 3º Grau - 2ª História - 5ª Parte por Francisco Fernandes no Estimado Diário

Contos de 3º Grau

2º Episódio - Estimado Diário

  Dia 1 - Inês Guimarães

Estimado diário, hoje só irei escrever palavras de dimensão múltipla de dois. Tens pachorra para contar? Zero, dois, quatro, seis, oito... tais quantias proporcionam cálculos sublimes! Oh... afinal tive outras ideias. As próximas frases exibirão propriedades diferentes. Nesta, constam somente vocábulos com tamanho ímpar, uma vez que o desemparelhamento é essencial, senão o mundo era uma chatice, demasiado regular! Agora, nesta afirmação todas as palavras apresentam a letra “A”, uma proeza nada espantosa, porquanto tal caracter abunda na nossa língua. E se fosse “E”? Ou o próprio “O”... Preferia “I”, indubitavelmente. Nunca um “U”! 
Pronto, esgotou-se-me a criatividade. Parece que vou ter de escrever aquilo que as pessoas normais escrevem nos seus diários... Por acaso, hoje tenho algo chocante para te contar. Não vais acreditar naquilo que encontrei dentro da bolsa da minha professora de matemática.

 Dia 6 - José Veiga de Faria

Não vais mesmo !!!...

Quando vi aquilo levei a mão à boca aberta em “O”  
Se se soubesse, se este escândalo caísse nos ouvidos certos, o Ministério e a Comissão de Revisão dos Programas de X estremeceriam!...
Os olhos abriram-se-me de espanto e os cabelos ficaram em pé quando imaginei o que seria a próxima sessão no Parlamento.
Decidi definir o universo dos “ouvidos” onde convinha deixar cair a notícia e a forma de cifrar a mensagem de forma a evitar intrusões … e entrar em ação. 

          

 Dia 11 - Gonçalo Gouveia

E eis, meu querido diário, que convoco os frutos desses infindáveis trimestres despendidos a beber sofregamente dos cartapácios repletos de utilíssimos algoritmos, cascatas de logaritmos, bosques de funções, prados de somatórios, um idílio equacionado em valores ponderados, a tender para o infinito, de que tão poucos entendem a excelência. Que emoção! E atiro-me à tarefa de definir o universo das orelhas eleitas, aquelas que estarão maduras para receber a revelação que abalará as fundações desse monumento vivo ao progresso do conhecimento que é o sistema de ensino. Assalta-me o cérebro um excelente critério de seleção: competência para resolver equações de terceiro grau! Consulto os resultados dos exames das últimas décadas e chego a um critério mais realista: Saber o que são equações! Penso nos meus colegas de carteira e afino o critério: Saber escrever a palavra “equações”! Perfeito! Ampliei o universo das orelhas a um bom ramalhete de eleitos.

 Dia 16 - Adília Gomes

O que será que a professora de matemática tinha na sua carteira, que poderia colocar em causa toda a sua carreira? Teria a ver com os exames nacionais ou seria algo que se possa ter passado na sua escola? Conhecida pelos seus alunos por Professora Maria de Fátima, tinha estudado em Coimbra matemática pura, sendo uma das melhores alunas do curso, optando, no entanto, por fazer carreira no ensino secundário, apesar dos imensos convites das melhores universidades do país.

Trata-se de uma pessoa boa, de uma honestidade a toda à prova ao longo da sua vida. Estaria a um passo de ser descoberta de algo que poderia chocar todos. Poderá ter sido alvo de inveja e lhe tenham feito uma armadilha? Ou o exagero desta jovem aluna pode estar a despoletar algo de muito grave que não tem importância absolutamente nenhuma?

O que será que estaria na mala da professora Maria de Fátima?

 Dia 21 - Francisco Fernandes

Aparentemente, esta era uma mala sem nada de especial ou relevante. Igual a tantas outras, destacava-se, na sua forma retangular, pela sua sobriedade e estilo clássico. Com uma coloração de um castanho escurecido e enrugado pelas curvas do tempo, possuía ainda duas molas metálicas que apresentavam sinais de ferrugem e bastante marteladas provocadas pelas incontáveis aberturas. Esta mala, Maria de Fátima havia recebido como herança da sua avó materna. Tinha-se habituado a vê-la sossegada e abandonada no sotão da velha casa familiar e sempre a achou facinante. Por isso, quando sua avó faleceu, achou-se no direito de ficar com ela.
Contudo, sem o saber, esta mala havia trazido infortúnio à sua avó, também ela de nome Maria de Fátima, mala essa que lhe havia sido ofertada por uma sua grande amiga e colega de faculdade Domitila de Carvalho.
Seria maldição familiar ou apenas uma coincidicência entre as inúmeras variáveis de um tempo em que eram raras as oportunidade para as mulheres puderem demonstrar as suas capacidades."

 Dia 26 - Carlos Marinho

Fim do Episódio


 

Publicado/editado: 21/11/2019