Contos de 3º Grau por Francisco Fernandes - A Circularidade do Infinito - 4ª História (3ª parte)

Contos de 3º Grau

4º Episódio - A Circularidade do Infinito

 Dia 2 - Gonçalo Gouveia

Não é requerido um infinito exercício de imaginação para adivinhar, dado o epíteto, que o calvário de Infinito Algoritmo remontava ao jardim-de-infância. O seu pai, João Algoritmo, ilustre catedrático de matemática, não primava em espírito prático ou psicologia infantil e estava plenamente convencido de estar a orientar o seu rebento para uma brilhante, senão genial, carreira em matemática, com esta dádiva onomástica. Mas, nem Infinito escapou à chacota constante dos colegas de escola, nem o sobrenome Algoritmo saiu ilustrado: Infinito era, e permaneceu durante sessenta e seis anos e seis meses, finito nas artes matemáticas. Era um professor de matemática competente e dedicado ao infinito, mas falhara ostensivamente o prémio Nobel. Mas tudo isto, neste primeiro dia do ano, ia acabar! Infinito Algoritmo ultimava a derradeira lição, antes da aposentação. E seria épica: Ia demonstrar, ao vivo, o Algoritmo da Circularidade do Infinito! Único senão, nesse mesmo momento a esposa ligava a um psiquiatra.

 Dia 7 - Adília Gomes

Na noite anterior, rebolou, circulou, sonhou de forma insistente como que recordando onde tinha iniciado esta "loucura" de querer demonstrar a circularidade do infinito. Este sonho fê-lo regressar aos melhores momentos de infância, com 5 anos de idade apenas. Muito antes de sofrer bullying na escola por causa do seu nome, do sobrenome e da sua inteligência acima dos outros alunos. Os seus colegas lambuzando-se na sua inveja adquirida dos pais desprovidos de inteligência fizeram-lhe a vida negra. 

Foram largos minutos de sonho feliz da sua infância. Estava em casa a jogar ao pião, este rodava, rodava e, aquilo fazia-lhe muita confusão, principalmente quando este parava. Em seguida, recordou seu arco quando corria sózinho pela rua abaixo, até que algum objeto se colocasse à frente. A verdade é que o arco rodava, rodava...

Nisto, toca o despertador, que o acordou do melhor sonho que tinha tido até esta idade. Voltar a ser uma criança feliz foi uma realidade virtual. Era o dia da demonstração... antes tinha de se livrar do psiquiatra! 

 Dia 12 - Francisco Fernandes

Iniciou o dia, como todos os outros ao longo destes últimos 44 anos, 4 meses e 4 dias, sempre que tinha aulas.
Um duche com água nem muito quente, nem muito fria, seguido da restante higiene pessoal, tudo efetuado num ritual preciso e cronometrado, ocupando-lhe 28 minutos, mais precisamente 14 minutos a tomar banho e 7 a secar-se; 4 minutos a fazer a barba 1 a pentear-se, 2 a lavar os dentes.
A roupa era fácil de escolher. Como detestava perder tempo, no seu guarda-fatos, tinha o mesmo modelo de fato, com vários exemplares, todos da mesma cor. A camisa sempre branca e sapatos pretos.
O pequeno almoço era tomado na mesa de refeições, mesa essa circular, mesa-redonda, como gostava de lhe chamar.
Um café com leite, com dois cubos de açúcar, mexendo 3 vezes a colher, sem no sentido dos ponteiros do relógio, iniciando o movimento como se o ponteiro indicasse as 6 horas.
Uma torrada com manteiga acompanhva este café com leite, barrada de forma circular.
Este meticuloso ritual permitia-lhe não ocupar a cabeça com nada mais do que o Algoritmo da Circularidade do Infinito.
Contudo, hoje algo lhe escapava do controlo. O psiquiatra...

 Dia 17 - Carlos Marinho

  Dia 22 - Inês Guimarães

 Dia 27 - José Veiga de Faria

Fim do Episódio

Publicado/editado: 12/01/2020