Entrevista ao matemático Fábio Chalub, Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática e Presidente do Departamento de Matemática da FCT/UNL

Clube Entrevista Março 2020

Entrevista ao matemático Fábio Chalub, Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática e Presidente do Departamento de Matemática da Faculdade Ciências e Tecnologias da Universidade de Lisboa FCT/UNL. Uma conversa num intervalo limitado, com uma amplitude alargada, entre a infância e a vida profissional atual, passando pelo Flamengo de Jorge Jesus, pela descoberta da incógnita o nome Chalub através uma criptografia simples e as razões pela paixão matemática. Vice-Presidente da SPM, liderada pelo Filipe Oliveira, foi um dos elementos a nível mundial a estar ligado ao dia internacional da matemática. Fica aqui uma conversa com uma fatorização simples e ligada por equivalências com soluções possíveis e determinadas.

Em poucos cálculos como foi a tua infância?
Feliz! Venho de uma família bem estruturada e cresci indo à praia de Copacabana dar uns mergulhos e ao Maracanã para assistir aos jogos do Flamengo.

O nome Chalub é invulgar. Podes desvendar esta incógnita?
O avó de meu avó emigrou do Líbano para o Brasil, que tem um enorme número de descendentes de imigrantes daquele país. Estão no geral bem integrados na sociedade brasileira, que historicamente é aberta à imigração.

Qual foi o ponto de origem para começares a gostar de matemática?
Uma professora de matemática que tive no quinto ano (atual quarto ano), a “Dona Neusa”. Ela adorava misturar matemática e futebol (apesar do grande defeito de torcer para o Vasco da Gama) e isto me fascinava. E nesta época ganhei dos meus pais o “Homem que Calculava”, do Malba Tahan. 

Podes demonstrar um pouco o teu percurso académico?
Terminado o colégio, estudei física na licenciatura e no mestrado e fiz o doutoramento em matemática. Fui para a Áustria para um pós-doutoramento e depois ganhei uma bolsa para vir a Portugal. Houve um concurso na Universidade Nova de Lisboa, para o Departamento de Matemática, fiz e passei. Desde então, cá estou.

És vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática. Como está a decorrer este mandato?
Gosto muito de trabalhar com a atual equipa, presidida pelo Filipe Oliveira. Tenho me dedicado menos do que realmente gostaria, devido a muitos outros compromissos, mas o que tenho feito tem sido com grande prazer. 

A SPM é a maior instituição matemática em Portugal. Qual é a sua importância no desenvolvimento da matemática?
A SPM foi central para promover a investigação numa época em que pouco havia. A medida que a investigação em matemática foi-se generalizando pelas universidades a SPM começou a mudar de foco, discutindo mais as questões do ensino. Não tenho dúvida que o progresso notável de nossos jovens, medidos pelo PISA, tem um dedo da SPM.

És presidente do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. O que nos pode revelar sobre o trabalho desenvolvido neste departamento?
O importante é não ser consumido pela gestão corrente, que numa universidade é sempre muito pesada. Reformar é preciso, pois o mundo não pára. O que mais gosto é o diálogo com as outras áreas, o mais importante é ouvir, o que dá mais prazer é ver os resultados.

Fizeste parte da comissão internacional de gestão das atividades, um grupo constituído por apenas nove matemáticos de várias nacionalidades que trabalharam para que a UNESCO viesse a declarar o dia 14 de março como o dia mundial da matemática. Como foi o trabalho no seio deste grupo?
Portugal foi um país chave para esta declaração. Desde que a ideia foi lançada pela União Internacional de Matemática, estivemos, pela mão da SPM, ativos na sua defesa e encontramos grandes aliados na Comissão Nacional da UNESCO, um órgão do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Com isto, foi possível redigir com muitas mãos os documentos que mais tarde se tornaram uma Resolução da UNESCO. Assim, o convite à participação deste grupo foi natural. Tenho-me envolvido na tradução do material para o Português, na definição do tema, no estímulo à participação da comunidade científica e educativa em Portugal nas festividades e muitas outras coisas. 

Qual é a importância deste dia para a matemática?
Um momento sobretudo de diálogo. Para o público em geral perceber a importância matemática, e para os matemáticos perceberem o mesmo do público em geral!

Uma licenciatura em matemática é uma boa opção para qualquer jovem poder ter um bom futuro?
Não há dúvida. O desemprego é virtualmente zero e o palco é o mundo. Muitos especialistas a consideram como um dos melhores empregos existentes. Este último dado leva em consideração não só a remuneração, mas a necessidade de fazer turnos, o número de horas em “posição desconfortável” etc.

Este dia, 14 de março de 2020, vai ser festejado em Portugal e um pouco por todo o mundo. Podes antecipar/prever como será este dia?
Espero ser surpreendido, e que cada ano seja uma nova surpresa.

Tens mais de dez anos de colaboração com a Gazeta de Matemática da SPM. Como está a ser a experiência?
Gratificante. Tentar explicar algo é o maior esforço de compreensão que nós podemos fazer. Cada comentário que eu recebo --- geralmente, correções --- são uma enorme fonte de prazer, pois aprendo algo novo.

O que gostas de fazer nos teus tempos livres?
Tenho três crianças… 

O matemático Alfred Rényi disse um dia que “quando estou infeliz trabalho em matemática para ficar feliz. Quando estou feliz, trabalho em matemática para me manter feliz”. O que te faz feliz?
Ver a resposta anterior (sem as reticências).

Entrevista de Carlos Marinho

Publicado/editado: 01/03/2020