Ideias não Orientáveis por Inês Guimarães - Famílias estranhas...

Eixos de Opinião de Setembro de 2020

Inês Guimarães - Aluna de Mestrado em Matemática e Autora do Canal MathGurl no YouTube  (Ver +)


 

Título: Famílias estranhas...

Olá, pessoal! Espero que as férias tenham sido boas, se é que existiram...

Hoje venho revelar-vos mais um motivo pelo qual eu gosto de matemática. Sabem aquelas pessoas que se queixam dos problemas de matemática por falta de realismo? Por exemplo, há problemas assim: “O João foi à mercearia e comprou 35 melancias, sendo o preço por unidade de 5€. Quanto é que o João pagou no total?”, e há pessoas assim: “Quem raio vai a uma loja comprar 35 melancias?! Problema estúpido! A resposta certa é: ‘O João é um psicopata’”. Nalguns casos, eu compreendo a contestação. Se os autores dos manuais não querem formular o problema de forma abstrata, para vender a ideia de que a matemática é muito importante na vida real, pelo menos que o façam em condições! 

Por outro lado, a magia da matemática é permitir-nos SAIR da jaula do mundo real, lidar com conceitos nunca antes imaginados, brincar com criaturas fantásticas, quase como se entrássemos num mundo com fadas e dragões. Quero lá saber se é irrealista comprar 35 melancias ou se só vivemos em quatro dimensões... em matemática posso explorar universos com cem, mil ou um milhão de dimensões! Gosto dessa sensação de liberdade, de explorar o desconhecido, do poder criativo. Além disso, fazer matemática é uma ótima maneira de esquecer momentaneamente os problemas da vida e do mundo. Quando estamos completamente concentrados num puzzle, não damos conta do tempo passar, nem da nossa mãe estar aos berros porque deixamos queimar o arroz.

Hoje trago-vos um quebra-cabeças que pretende ilustrar o que venho a defender até agora. É o seguinte:

O Artur casa com a mãe do Bernardo e o Bernardo casa com a mãe do Artur. Qual é a relação de parentesco entre os seus filhos?

Dificilmente isto aconteceria na vida real, não é? Mas é essa particurelaridade que torna o puzzle bem mais divertido e apetecível! Deparei-me com ele ao assistir a este vídeo (aparece por volta dos 12 minutos). O orador vela a solução logo a seguir, portanto, não vejam tudo se quiserem pensar por vocês próprios... Tentem resolver o problema primeiro, ok?

Ok. Agora agarrem-se à cadeira, porque vão ler algo chocante. Quando Bill Wyman, baixista dos Rolling Stones, tinha 52 anos, casou com Mandy Smith, uma jovem de 18 anos. (Não, esta ainda não é a parte chocante.) Mas Bill já tinha um filho com 30 anos, Stephen Wyman, que depois casou com a mãe de Mandy Smith. Ou seja, temos a situação seguinte: o filho de uma pessoa casa com a mãe da mulher do pai. Isto faz com que Stephen seja... O SEU PRÓPRIO AVÔ. Desenhem um esquema para se convencerem! (Vá, isto não é bem, bem verdade, porque Bill e Mandy divorciaram-se antes do casamento de Stephen, mas continua a ser surpreendente!)

Por isso, da próxima vez que se depararem com um problema do género de: “Um filho casa-se com a mãe da mulher do seu pai. Qual é a relação de parentesco consigo próprio?”, lembrem-se que pode não ser tão irrealista assim...

Espero que tenham gostado deste artigo e, se o quiserem comentar, passem pela página de Facebook do Clube de Matemática. Se me quiserem chatear, escrevam para inesguimaraes42@gmail.com.

Muito obrigada e até daqui a um mês!

 

Publicado/editado: 19/09/2020