Intersecções por Daniela Gonçalves - Gostava de ser a Mãe e Mulher que és

Eixos de Opinião de Março de 2019

Título: Gostava de ser a Mãe e Mulher que és

Mais um ano, mais um mês, mais um dia, mais um Dia da Mulher.

E porque hoje é o Dia da Mulher, optei por escrever sobre uma mulher muito especial: a minha Mãe. Perdoem-me o egoísmo de ser a minha. Mas este é um espaço de autoria pessoal que acaba por ter grandes marcas biográficas e a minha história faz sentido e tem outro(s) significado(s) com a minha Mãe.

É também a Mãe da minha mana. Ambas conhecemos as razões pelas quais vale a pena escrever sobre ela. Ambas sentimos um desejo enorme de partilhar com os outros a forma como ela nos acolhe, educa, ensina, diariamente.

A minha Mãe tem pouco da sua Mãe, a minha avó Cecília. A minha avó Cecília, mulher dos múltiplos ofícios, uma lutadora por natureza, muito à frente do seu tempo, sempre de salto alto quando o passeio era mais longo sem prescindir da sua saia e casaco, era de um modo muito natural aventureira e ousada.

A minha Mãe é muito mais tranquila e gosta de jogar pelo seguro. Gosta do mesmo sítio para passar férias, do mesmo restaurante para alguma iguaria específica, do mesmo cabeleireiro e conversas de sexta-feira, do mesmo café ao sábado com as mesmas pessoas/amigas(os). Gosta muito de contar muitas histórias (às vezes as mesmas) com outras histórias pelo meio que nos fazem perder o fio à mesma.

Apesar de estas rotinas que parecem não ter nada de especial, a minha Mãe é verdadeiramente especial. A sua especialidade é a doçura. O modo como os seus olhos nos tocam. O modo como as palavras nos acolhem e abraçam. O modo como o seu sorriso nos aponta os caminhos.

A minha Mãe sempre viveu para nós. Abdicou de uma carreira profissional por nós sem qualquer amargura. Ainda hoje abdica de tudo para nos apoiar. Muitos dizem que os filhos não precisam de mães perfeitas, mas antes de mães felizes. E é mesmo isso: a minha Mãe é feliz! Feliz, diz ela, porque sabe que estamos bem e que somos felizes.

Mesmo em momento difíceis, como a luta conta um cancro que venceu em 2003, sentimos o seu modo de ser feliz: estar bem, o que implica fazer o bem. Fazer o bem com doçura, atenção, dedicação.

Não sei como consegue.

Não sei como é possível gerir tanta sabedoria.

É um saber emocional que faz com que todos nós nos relacionemos bem, naturalmente, e sintamos que este legado não pode terminar.

É um modo de ser que sabe o que fazer.

É a minha Mãe.

Mãe: a tua mãe, minha avó Cecília, deve estar tão feliz.

Mãe: somos felizes.

Que tenhas um dia muito feliz. Hoje e sempre, Mãe.

E sabes Mãe: um dia, gostava de ser a Mãe e mulher que és.

Publicado/editado: 08/03/2019