Intersecções por Daniela Gonçalves - É ilusório pensarmos que voltaremos à mesma realidade

Eixos de Opinião de Maio de 2020

Daniela Gonçalves - Professora do Ensino Superior na ESE de Paula Frassinetti e Investigadora na Universidade Católica Portuguesa, Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano, Portugal (Ver +)


Título: É ilusório pensarmos que voltaremos à mesma realidade

É ilusório pensarmos que voltaremos à mesma realidade. 
Essa realidade passou. 
É ilusório pensarmos que voltaremos à mesma Educação.
Essa Educação passou
É ilusório pensarmos que voltaremos à mesma Escola.
Essa Escola passou.
É ilusório pensarmos que voltaremos a exercer à nossa profissão do mesmo modo.
É minha convicção que já todos percebemos que esse tempo passou. 
É ilusório pensarmos que já nos tornamos professores.
Ser professor é sempre algo a fazer-se. 
Ser professor é também conquistar uma posição no seio da profissão.
Ser professor é também tomar posição, publicamente, sobre os grandes temas educativos e participar na construção conjunta de um mundo melhor.
Ser professor é aprender a intervir como professor.
Ser professor é também investir em respostas adequadas aos problemas que vão surgindo.
Ser professor é distinguir a ilusão do conhecimento.
Ser professor é ser capaz de intersectar a capacidade de adaptabilidade à ousadia.
Nestes tempos excecionais convém alicerçar a nossa ação profissional (e pessoal) em pilares que não são, nem nunca o foram, ilusórios: 
i) Respeito – demonstrá-lo para com os outros, evitando ter que pedir/exigir;
ii) Confiança – demonstrar que os outros podem contar connosco; 
iii) integridade – dizer e fazer como dizemos;
iv) Saber – estar na posse do conhecimento - ser erudito.
É ilusório não estar convencido de que a complexidade ganhou terreno a todos os movimentos lineares. 
Todos sabíamos que o processo educativo é dinâmico. O que não sabíamos é que efetivamente num dia em março de 2020 deixaríamos de ter a sala de aula como a grande arena onde tudo (pode) acontece.
O que não sabíamos é que muito rapidamente tudo o que entendemos por essencial à intervenção educativa – observação, planificação, ação, avaliação, comunicação, divulgação - entraria no domínio do paradoxal.
É ilusório pensarmos em cruzar os braços. 
Afinal, somos Professores/as.
Não percamos o(s) sentido(s)! 
Não percamos o(s) propósito(s)! 
Não percamos a(s) intencionalidade(s)!

Publicado/editado: 11/05/2020