Intersecções por Daniela Gonçalves - Metamorfoses do Aprender e Ensinar

Eixos de Opinião de Abril de 2020

Daniela Gonçalves - Professora do Ensino Superior na ESE de Paula Frassinetti e Investigadora na Universidade Católica Portuguesa, Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano, Portugal (Ver +)


Título: Metamorfoses do Aprender e Ensinar

Ao estilo de Kafka, a nossa condição mudou da noite para o dia. Ao estilo de Kafka, um acontecimento extraordinário envolveu-nos. Ao estilo de Kafka, desde o início ficamos perplexos face à realidade e todos os relatos surgem como plausíveis, sem qualquer tipo de floreado. Ao estilo de Kafka, os dias são duros.

Esta transformação repentina, necessária e urgente, fruto da COVID 19 e do estado de emergência, alterou profundamente o nosso modo de viver, socializar, sentir, experimentar, refletir, ponderar, discernir, decidir, sonhar, aprender e ensinar.

Da noite para o dia, a Escola fechou. Da noite para o dia, os alunos deixaram de estar na escola. Da noite para o dia, os professores continuaram, porque um professor nunca abandona os alunos (muito menos nesta circunstância).

A Escola fechou e os docentes continuaram como sempre estiveram – em modo ON.

A Escola fechou e as ações de aprender e ensinar ganharam novas configurações.

Sempre ligados, como é habitual, os docentes encontraram novos modos de fazer aprender, novas formas de comunicar com os alunos, novas formas de os envolver na construção do conhecimento, novos modos de acompanhar/monitorizar/avaliar o desempenho dos alunos.

A Escola fechou e os docentes, globalmente, abriram-se! Aceitaram todos os desafios provenientes das metamorfoses do aprender e ensinar. Incrivelmente, fizeram-no em conjunto. E cada dia que passa, mais conjunto se tem alcançado. Mais debate. Mais partilha. Mais reflexão. Mais decisão (coletiva). Todos sabemos que aprendemos mais em conjunto, na confrontação e na partilha. A Escola fechou e passamos da teoria à prática. Criaram-se grupos de discussão e de partilha, formas diversificadas de comunicação, modos alternativos de pensar/preparar/planificar o ato de aprender e ensinar. Redefiniram-se trajetórias.

Tem sido uma tarefa árdua. Diria até que tem sido uma tarefa à medida dos professores. Compreendem “esta medida”. O tempo “gasto” é muito superior ao tempo de outrora, apesar de já ser muito tempo, tendo em conta o estar sempre ON.

O que temos assistido é uma lógica essencial em qualquer tempo: cooperar para aprender, em dinâmicas que exigem saber, rigor, partilha, confronto, confiança e compromisso.

Esta cultura de colaboração afinal é possível. Não poderemos voltar a perder este espírito/esta prática/esta força que resultou da ameaça. Em todas as ameaças existem oportunidades. Vamos aproveitar ao máximo esta forma de enfrentar este tempo: unir esforços, partilhar ideias, dúvidas, avanços, recuos, sabendo reconhecer com clareza os nossos propósitos.

E quando um dia a Escola abrir, voltaremos. Voltaremos de um outro modo. Não haverá intocáveis. Nesse momento, ser-nos-á oferecida uma nova oportunidade: (re)significar a(s) nossa(s) indentidade(s), a(s) nossa(s) função(ões) e a(s) finalidade(s) da Escola.

Enquanto houver estrada para andar, nós vamos continuar. Continuaremos a dar o nosso melhor. Estaremos aqui. Sim, estaremos ON, como sempre estivemos.

Estaremos a

"Educar humanos,

Por humanos

Para o bem da humanidade”, tal como defende António Nóvoa.

Parabéns, colegas!

Congratulemo-nos pela(s) exigidas e exigentes metamorfose(s). 

Publicado/editado: 08/04/2020