Intersecções por Daniela Gonçalves - Que se lembrem das minhas atitudes e pelo fim último com que o fiz – o Bem

Eixos de Opinião de Janeiro de 2022

Daniela Gonçalves - Professora do Ensino Superior na ESE de Paula Frassinetti e do CIDTFF da Universidade de Aveiro (Ver +)


Título: Que se lembrem das minhas atitudes e pelo fim último com que o fiz – o Bem

Na permanente busca da nossa identidade, vamos encontrando falhas e vontades sedentas de realizações pessoais e de motivações profundas. Nós nunca somos nós singulares. Somos nós e os outros. Somos nós e as circunstâncias. Estamos em constante demanda. Por vezes, nem sabemos bem porquê nem para quê

Na verdade, as respostas que muitas vezes procuramos são preenchidas por cursos/ações de formação que apenas respondem ao “para quê”. Contudo, a razão mais profunda, o “porquê”, tem que ver, provavelmente, com as mesmas razões que nos levam a acreditar que algo, na educação, está a mudar. De facto, nas últimas três décadas, nunca, como hoje, se falou tanto em mudanças no ensino e na educação em geral com implicações na carreira dos professores. 

Quando educamos alguém, tomamos opções. Quando alguém educa ou procura educar-se, jamais permanece o mesmo. E tal acontece porque a educação não é neutra, transforma. Transforma o indivíduo (educador e educando) e transforma o mundo à sua volta. Voltamos assim à demanda inicial da nossa identidade: para quê e porquê educar?

Na minha opinião, a transformação do indivíduo na educação não acontece apenas pelo conteúdo da aprendizagem, mas e, essencialmente, pelo modo como tal aprendizagem acontece e pela forma como a vontade é mobilizada. Tal parece ser verdade, porque é inerente ao ser humano o querer aprender, interpretar o mundo, explicar o Universo. 

Segundo Guilherme d`Oliveira Martins, a educação pressupõe “despertar, construir, trocar” e qualquer professor, frequentemente, se interroga sobre este carácter interessado do aluno que deve ser despertado. O ideal era que nas escolas onde trabalhamos tivéssemos apenas gente curiosa, sedenta de saber e motivada para o desconhecido. Mas, o que é facto é que a escola real não é assim e ainda bem! 

O valor télico da educação e o carácter interessado de quem aprende remetem-nos para os fins e valores últimos da educação, e remetem-nos para os conceitos de "liberdade" e de "felicidade mútua" de que fala Aristóteles e de "Bem" de que fala Platão. No fundo, estes dois pilares da educação permitem-nos formular um juízo ético e moral que distinga o “bem” do “mal” a ponto de percebermos por que razão queremos ser autónomos e livres

Como seres em construção e em permanente mudança, acreditamos que educar é transformar o mundo. Educar-se é deixar-se transformar; é querer ser livre e viver em busca da(s) nossa(s) identidade(s). 

Como professora, e como mãe, espero que se lembrem de mim, não pelo que disse, mas pelo modo como o disse e pelo fim último com que o disse – o Bem. Como professora, e como mãe, espero que se lembrem das minhas atitudes e pelo fim último com que o fiz – o Bem.

Feliz 2022!

Publicado/editado: 07/01/2022