Intersecções por Daniela Gonçalves - Saberes diferenciados, cuidado e humildade

Eixos de Opinião de Novembro de 2021

Daniela Gonçalves - Professora do Ensino Superior na ESE de Paula Frassinetti e do CIDTFF da Universidade de Aveiro (Ver +)


Título: Saberes diferenciados, cuidado e humildade 

Uma das tarefas mais difíceis e desafiadoras é, precisamente, educar. É necessário estar preparado para ajudar as pessoas a compreenderem o tempo e o mundo em que vivem e a tornarem-se seres humanos produtivos, solidários, felizes e realizados. O que mudou hoje é que o mundo e a vida tornaram-se espantosamente mais complexos e mais sofisticados. Dar conta deste requisito básico de compreender o mundo acaba por ser o maior desafio. 

Hoje, não se trata simplesmente de transmitir conhecimentos básicos e ensinar regras de conduta. Hoje, trata-se de compreender que o mundo mudou de uma forma nunca antes imaginada, exigindo saberes muito diferenciados.

As tecnologias mudaram a face do planeta e os problemas com os quais nos deparamos hoje são frequentemente novos. Às vezes surpreendemo-nos por sermos incapazes de decifrar certos textos televisivos, certos jogos, certos filmes, certas práticas, certos comportamentos, certas “mensagens”, porque elas fogem inteiramente ao nosso universo de referência. 

Há uma outra gramática cultural em andamento. Esse é hoje o maior desafio para a educação. Quem duvidar disto precisa de olhar para fora do seu universo restrito e tentar descortinar o que vê. Compreender já é outra conversa. 

Não há um único caminho, assim como não se pode tomar as Escolas e as culturas em que se inserem como formações homogéneas. Há um desafio que nos é colocado pela Escola do século XXI: compreender que há um mundo curioso, misterioso, erguendo-se ao nosso redor. 

Uma das consequências desta ideia é a seguinte: educar não significa apenas, como tentam fazer-nos crer, dar conta de algumas novas competências técnicas, científicas e pedagógicas. Hoje, educar é muito mais do que isso. Implica uma acuidade, uma certa sensibilidade para conseguir penetrar um pouco este “espírito” do nosso tempo, procurando compreender, com cuidado e humildade, essa enigmática transformação. 

Embora a Escola esteja a atravessar dificuldades para dar conta da tarefa de educar nestes tempos mutantes, parece não ter perdido a sua importância e vitalidade. Não devemos temer tudo aquilo que nos escapa; fugir não é solução. Estaremos nós dispostos/disponíveis para (re)encontrar outros caminhos? 

Que bom que seria criar espaços interdependentes de esperança, tornando possível a efetiva ligação/intersecção entre o ato educativo e um mundo melhor.

Publicado/editado: 08/11/2021