Daniela Gonçalves - Professora do Ensino Superior na ESE de Paula Frassinetti e Investigadora na Universidade Católica Portuguesa, Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano, Portugal (Ver +)
Título: Se fosse uma borracha apagava...
É tempo de recordar.
É tempo de olhar para dentro.
É tempo de falar sobre algo que é verdadeiramente marcante.
É tempo aquilo que é marcante.
É tempo de sublinhar o que nos toca...
Eis um episódio pessoal e profissional que já tem uns anos e que cada vez mais está (no meu) presente.
Há uns anos, em conversa com uma colega docente, tive conhecimento de uma aula/oficina de escrita criativa em que uma turma (difícil... por diferentes razões) foi desafiada do seguinte modo: e se fossem uma borracha... o que apagavam?
Este desafio fez emergir uma série de questionamento (o que já não era visível há muito tempo). Transformou-se numa espécie de despertar para a escola e para a aprendizagem e serviu, ainda, para a professora conhecer realmente os seus alunos.
As perguntas sucederam-se: mas apagar para sempre? Ou apagar no momento? Podemos apagar qualquer coisa? Apagar, definitivamente? Pode voltar a escrever no quadro as “regras” de construção de uma narrativa? Pode voltar a enunciar os auxiliares linguísticos que indicam as premissas e as conclusões?
Já era uma vitória: os alunos desejaram escrever! E escrever bem. Estavam preocupados com as regras.
No final, a professora foi recolhendo os textos construídos e os alunos iam avisando que não gostariam de ter que ler em voz alta a produção.
Eis que a professora começa a ler os textos e o “milagre” acontece... A Escola e as aprendizagens não foram o alvo da borracha. A borracha apagava então o quê?
“Se eu fosse uma borracha apagava a tristeza do rosto da minha mãe...”
“Se eu fosse uma borracha apagava aquilo que aconteceu em Paris...”
“Se eu fosse uma borracha apagava o medo que sinto...”
Compreendem? Precisamos de os conhecer, compreender e desafiar. Eles são capazes.
Este foi um primeiro passo. Tudo começou por uma borracha no cumprimento da sua função.
Cumpriremos, portanto, a nossa, colegas.
Em vez de utilizar a borracha, sublinho esta ideia que resultou desta história: foi a “primeira” de muitas aulas, porque outras e novas oportunidades para a ação docente aconteceram.
Abriu-se a possibilidade de aprendizagens dos alunos com significado(s).
Abriu-se a possibilidade de equacionar formas alternativas de fazer aprender.
Abriu-se a possibilidade de um espaço de criação.
Que seja, então, tempo de ação.
Que seja, portanto, tempo de criação.