Intersecções por Daniela Gonçalves - Ser Contra a Corrente

Eixos de Opinião de Janeiro de 2020

Daniela Gonçalves - Professora do Ensino Superior na ESE de Paula Frassinetti e Investigadora na Universidade Católica Portuguesa, Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano, Portugal (Ver +)


Título: Ser Contra a Corrente

Mário Cordeiro começou o ano a desafiar-nos. Vejamos: “numa época de tanta comunicação, nunca se comunicou tão pouco e com tão pouco tempo. Confunde-se trocar mensagens com experimentar emoções, debater sentimentos ou olhar o outro nos olhos, fruir os silêncios (as pausas são essenciais na música, como o silêncio no final da peça, antes dos aplausos!) e adivinhar até as microexpressões da face, a linguagem gestual, a maneira de estar, de pousar a mão, de trocar (ou desviar) olhares. Não há emoji que chegue aos calcanhares das relações “cara a cara”. Torna-se, assim, urgente, mas mesmo muito urgente, dar a volta a este estado de coisas e não ter receio de as dizer, com medo de que possa ir contra a corrente”.

A comunicação é a base da vida em sociedade, uma vez que inclui todos os fatores que permitem as relações entre as pessoas. Contudo, é frequente que da comunicação derivem mal entendidos sendo, normalmente, atribuída ao interlocutor a responsabilidade de não ter sabido compreender a mensagem emitida. Podemos começar precisamente aqui esta contra corrente: não será que o resultado da comunicação é a resposta que dela se obtém? Não será (educativamente) mais interessante considerar que se a pessoa com a que se fala não compreendeu, deve-se autoatribuir a responsabilidade de ter feito algo de forma inadequada, devendo o emissor modificar a sua comunicação para a tornar mais eficaz?

Esta forma de entender a comunicação - e comunicar - pode alicerçar uma relação (pedagógica) muito mais acolhedora e propícia à construção do conhecimento. Será que é ser contra corrente tentar entender o outro antes de ser entendido? Do modo como vivemos hoje, parece que sim.

É sabido que as pessoas estão continuamente a comunicar algo: mesmo que não se queria comunicar, está-se a comunicar que não se quer comunicar. Ainda que pareça um jogo de palavras, é algo que afeta de uma forma fundamental a vida quotidiana, uma vez que o modo como uma pessoa comunica é a sua carta de apresentação aos demais.

Na docência, para além desta carta de apresentação, a comunicação é elemento essencial no processo de ensino e, essencialmente, no processo de aprendizagem. É pela comunicação que somos envolvidos na aventura do conhecimento e da aprendizagem. É pela comunicação – por vezes em silêncio, onde apenas os gestos falam – que muito de nós não desistem e superam barreiras, porque conseguem ver que o Outro (docente) acredita nas nossas capacidades. 

Ser Contra a Corrente é cuidar da comunicação. 
Ser Contra a Corrente é cuidar da relação. 
Ser Contra a Corrente é fazer a diferença na comunicação. 
Ser Contra a Corrente é comunicar bem, de modo simples, apropriado e empático. Tal como diz Mia Couto, é preciso “calçar os sapatos do outro” e tentar compreender como é que o Outro recebe a mensagem. 
Ser Contra a Correte é ser genuinamente um Mestre (n/da Docência). 

Publicado/editado: 08/01/2020