Intersecções por Daniela Gonçalves - Vamos a Isto?

Eixos de Opinião de Setembro de 2019

Daniela Gonçalves - Professora do Ensino Superior (Ver +)


Título: Vamos a isto?

A nossa relação com as crianças está fortemente influenciada pela maneira como concebemos a infância, a saber: a) se a concebemos como sujeitos incompletos, provavelmente, a nossa relação com eles será, essencialmente, de poder e domínio; b)se a concebemos como uma mera “dependência física” dos adultos, o mais certo é não nos questionarmos sobre a relação que mantemos com a infância; c) se a concebemos como “algo” que requer proteção, então a infância é perspetivada como um objeto; d) se a concebemos como criança, sujeito de direito(s) - podem e devem expressar-se em qualquer uma das suas formas, das suas necessidades, gostos e preferências e, deste modo, estaremos, provavelmente, a relacionarmos com pessoas que necessitam de ser escutadas e reconhecidas.

Consideramos que cada uma destas representações sobre as possibilidades de estabelecer o relacionamento com a infância deverá ser confrontada com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, chegando, obviamente, à conclusão de que só a última representação é coerente com esse documento.

A mudança epistemológica rompe, definitivamente, com a conceção e as correspondências representativas da criança como “objeto”, devolvendo às crianças a sua subjetividade … Deste modo, a ação pedagógica que preconizamos exige a (re)invenção de um espaço reflexivo, cooperando com as seguintes matrizes:

I. A participação na “polis” ou na cidade/comunidade significa a possibilidade real de apreciar, aceitar e discutir as convicções/razões, entendo a criança como sujeito de direito(s);

II. O aprofundamento da sociedade democrática implica uma formação com uma riqueza imensa em valores democráticos, garantindo a fundação de uma cultura de participação sustentada;

III. O desenvolvimento adequado e constante de competências para uma cultura de exercício cívica ativa.

Esta abordagem exige a compreensão do significado da ação comunicativa/participativa, nomeadamente, no âmbito escolar, bem como a sua criação, potenciando uma nova paideia que implicam a aquisição de "conceitos fundamentais", tais como, democracia e autoridade, cooperação e conflito, a igualdade e diversidade, liberdade e ordem, direitos individuais e direitos da comunidade, responsabilidades, entre outros.

Trata-se de converter a totalidade da cultura de cada escola em uma oportunidade ou, ainda, que os recursos utilizados permitam superar a assimilação passiva, potenciando a aprendizagem da liberdade e responsabilidade, desenvolvendo competências interligadas com o (a): a) diálogo, b) mediação de convivência, c) argumentação, d) expressão (oral e escrita); e) determinação e f) crítica. A escola é aqui apresentada e perspetivada como um cenário estimulante face à experiência da ação pedagógica participativa/comunicativa.

Eis um repto também lançado aos professores: (re)Inventar um espaço reflexivo! (re)Inventar um espaço de conhecimento; (re)Inventar um espaço de questionamento!

Vamos a isto?

Publicado/editado: 08/09/2019