Linhas e Pontos por Carlos Marinho - Na Hora de dar à “Sola”

Eixos de Opinião de Julho de 2019

Carlos Marinho - Professor de Matemática e Coordenador do Clube de Matemática da SPM (Ver +)


Título: Na Hora de dar à “Sola”

Agosto é o mês das férias de verão. Nesta altura preparamo-nos para trabalhar o descanso. Sou daqueles que acredito que repousar na altura certa nos faz melhorar a qualidade do trabalho que desenvolvemos todos os dias. 

Vou descrever uma situação de férias que me faz lembrar como é importante o trabalho em equipa. Este episódio passou-se num dos verões passados, em Madrid, num parque de diversões onde para além de montanhas russas e outras atrações, tinha um espaço inusitado onde as pessoas que quisessem poderiam ter uma experiência única de terror. 

Basicamente, depois de pagar um bilhete, somos colocados numa fila e em grupo de 8 a 10 pessoas percorrendo um espaço inóspito e assustador ao longo de corredores escuros onde se passeiam personagens (atores) disfarçados e vestidos de uma forma horrenda e verdadeiramente assustadora. Esta experiência fez-me lembrar o trabalho em equipa. Porquê?

Ao longo de centenas de metros, só temos uma hipótese. “Andar” (sofrer) em equipa. Ou melhor, percorrer o espaço escuro, medonho todos juntos como se tratasse de uma autêntica e unida equipa. Cerca de 10 pessoas que não se conhecem de lado nenhum, naqueles momentos tornam-se unidos como nunca. Vivem esta situação numa autêntica cabine telefónica, mas com o pormenor de ter de andar com a cabine telefónica ao longo de centenas de metros. Sempre com o (des)apoio incomodativo daqueles seres aterradores e ameaçadores. 

Depois de andarmos todos em bicos de pés e de sustos permanentes por aqueles figurantes de metro em metro ao longo de uma eternidade (uns 10 minutos apenas), com toques subtis no momento certo, eis que já quase no final desta aventura digo para o meu filho:” “depois desta maluqueira toda só falta o “gajo” da motosserra. E nesse momento, no maior dos silêncios, escuridão total, todos “borrados” de medo, onde apenas se vislumbrava uma luz ao fundo do túnel, provavelmente a porta de saída, surge o maior dos sustos. Com um ruído ensurdecedor, aparece do nada uma figura arrepiante, qual thriller do Michael Jackson, com um motosserra na mão com um barulho absolutamente incrível após todo aquele silêncio, a ir ao encontro das pessoas, a recordar o filme de terror “o Pesadelo em Elm Street” com o arrepiante Freddy Krueger. Deviam ter visto, como todos descobrimos uma saída… isoladamente.

Foi nesse momento que eu pensei: “Está na hora de dar corda aos sapatos!” Acho que naquele momento, se estivesse numa corrida de 100 metros em pleno Jogos Olímpicos, todos batíamos de certeza a concorrência. Já cá fora, a respirar com dificuldade, ofegante, rindo para não chorar pensei: “Então, lá se foi o trabalho de equipa. A união que existiu lá dentro, na hora do aperto desfez-se num segundo…”

Como referiu o poeta francês Pierre Reverdy “o mais sólido e mais duradouro traço de união entre os seres é a barreira”. Bem, neste caso a barreira, chamava-se motosserra. Que num instante destrui toda a solidez à prova de bala do trabalho em equipa daquele momento. Na hora do aperto, em momentos complexos, nas pequenas ou grandes equipas, aí vê-se quem são os verdadeiros elementos do grupo. 

Boas férias.

Publicado/editado: 10/07/2019