Linhas e Pontos por Carlos Marinho - Goettingen, a Cidade do Conhecimento

Eixos de Opinião de Fevereiro de 2021

Carlos Marinho - Professor de Matemática (Ver +)


Título: Goettingen, a Cidade do Conhecimento

Fazer ciência é buscar, procurar, interrogar, questionar-se. O físico dinamarquês Niels Bohr defendia que “cada frase que profiro deve ser entendida não como uma afirmação, mas como uma pergunta.” Neste texto vou falar de dois cientistas e de uma bela localidade alemã.

O que une e diferencia o alemão Carl Gauss e o português Tiago Fleming Outeiro? Viveram em épocas diferentes, um intervalo de tempo entre o século XVIII e o século XXI entre o ano de 1777 e o ano de 2021 com uma amplitude de 244 anos. O que os liga? O amor pela ciência e pela incessante procura pela descoberta, por encontrar uma gota no oceano que pode fazer a diferença para a humanidade. O que também os une é a localidade de Goettingen, na Alemanha. 

Johann Carl Friedrich Gauss nasceu em Braunschweig a 30 de abril de 1777 e morreu em Göttingen a 23 de fevereiro de 1855. Foi um matemático, astrónomo e físico alemão que contribuiu muito em diversas áreas da ciência, entre elas a teoria dos números, estatística, análise matemática, geometria diferencial, geodésia, geofísica, eletroestática, astronomia e óptica. Alguns referem-no como princeps mathematicorum (em latim, "o príncipe da matemática" ou "o mais notável dos matemáticos") e um "grande matemático desde a antiguidade". Ele refere-se à matemática como a "rainha das ciências". Segundo uma história famosa, o seu professor primário pediu que os alunos somassem os números inteiros de um a cem. Após ter enunciado o problema, obteve uma reação quase imediata. O jovem Gauss colocou a sua lousa sobre a mesa, dizendo: ligget se! A resposta era 5050 e, estava esse número escrito na lousa. Foi encontrada através de um raciocínio que demonstra a fórmula da soma de uma progressão aritmética. Logo, ali reconheceu a genialidade do menino de dez anos, passando a incentivá-lo nos seus estudos, junto com seu jovem assistente, Johann Martin Bartels (1769-1856), também um apaixonado pela matemática. Entre Bartels, com dezassete anos, e o aluno de dez nasceu uma boa amizade que durou toda a vida. Gauss era tão apaixonado pela matemática que um dia disse a um colega: "Fiz uma descoberta maravilhosa e já agora, hoje nasceu o meu filho."

Tiago Fleming Outeiro é um dos mais conceituados investigadores mundiais da área da neurociência da atualidade. Fez a sua formação avançada nos EUA e, em 2007, decidiu voltar a Portugal, onde iniciou o seu grupo de investigação. Estava muito satisfeito com o trabalho e as condições, mas teve uma oferta difícil de recusar, da Universidade de Gotiingen. Assumiu o cargo de Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen. A sua investigação tem-se centrado no estudo daquilo que está na origem de doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson ou Huntington. Sabe-se que determinados tipos de neurónios no cérebro deixam de funcionar corretamente e, eventualmente, acabam por morrer, dando origem aos sintomas característicos das doenças. Apesar destas doenças terem sido descritas há mais de 100 anos (mais de 200 no caso da doença de Parkinson), ainda se compreende pouco sobre aquilo que as despoleta. Sabe-se que nos cérebros dos doentes se acumulam proteínas “desenroladas”, em aglomerados que se pensa serem tóxicos, E a investigação de Tiago Fleming Outeiro tem-se centrado no estudo deste processo de “desenrolamento” e aglomeração das proteínas, para tentar identificar novas formas de intervenção terapêutica.

O esforço, o trabalho incessante, as horas a fio em busca de algo que faça mexer o futuro é o propósito de qualquer investigador. Deixo-vos este texto com uma pergunta:

"Porque é que é tão fácil ficar acordado até às 6 da manhã e tão, difícil acordar às 6 da manhã?"

Porque as coisas que estão em movimento tendem a ficar em movimento. E, as coisas que estão em repouso tendem a ficar em repouso. Quem defende isto? A Física Matemática.

Estas fotografias foram tiradas em Gotiingen e enviadas pelo Tiago Fleming Outeiro.

Publicado/editado: 10/02/2021