Entrevista com o matemático Jorge Buescu sobre o seu novo livro "Curvas Ideais, Relações Desconhecidas e outras Histórias da Matemática"
Notícias Clube SPM
Entrevista com o matemático Jorge Buescu sobre o seu novo livro "Curvas Ideais, Relações Desconhecidas e outras Histórias da Matemática". Numa conversa exclusiva, Jorge Buescu apresenta-nos a sua nova obra, um livro com histórias, belas histórias matemáticas onde adiciona a razão do título do livro entre outras novidades.
Este livro é por definição...
…um livro de histórias. Histórias reais, histórias sobre Matemática de hoje, tal como ela é feita no século XXI, com os seus heróis e os seus vilões, as suas figuras mais coloridas e as personagens mais sombrias, os seus problemas (ainda) sem solução e as soluções em busca de problemas. São histórias para quem gosta de Matemática, uma espécie de grande fresco sobre a evolução recente da Matemática. Embora eu próprio não tenha papel activo nestas histórias, é o facto de estar activamente embrenhado na investigação de ponta em Matemática que me permite ter esta visão privilegiada – e partilhá-la.
Jorge Buescu com o matemático francês Cédric Villani (medalha Fields)
Chama-se "Curvas Ideais, Relações Desconhecidas e outras Histórias da Matemática". Porquê?
As curvas ideais referem-se a um capítulo em concreto, aquele em que exponho o Problema de Dido (que aliás é ilustrado na capa); as relações desconhecidas são, como insisto em vários pontos do livro, aquilo que faz a Matemática funcionar. Uma das forças condutoras do progresso da Matemática é a nossa ignorância: a ignorância sobre estruturas cujas relações desconhecemos mas das quais começamos, a pouco e pouco, a suspeitar. O papel da investigação em Matemática é ir em busca destas estruturas e relações. Quando as descobrimos, temos um teorema, ou uma teoria.
Finalmente, porque é bom em tudo ter um toque de humor, o título acaba por ser também um ambíguo piscar de olhos à beleza com que a Matemática nos seduz.
Nos seus livros tem-nos habituado a muitas novidades. O que pode destacar neste livro?
Olhando agora para a obra completa, o elemento de união destas histórias é mesmo o facto de a grande maioria dizer respeito à Matemática que está a ser feita hoje, a desenvolvimentos dos últimos anos, da conjectura ABC – que ninguém sabe, em bom rigor se ainda é uma conjectura ou já é um teorema – ao número cromático do plano, que é um dos poucos exemplos que conheço, nesta época de hiperespecialização, de resultados matemáticos que escaparam a especialistas durante 60 anos e acabaram por ser demonstrados por um amador. A Matemática está viva e vibrante!
É um livro de ciência e de matemática. Pode ser lido por quem?
Dará certamente grande prazer a quem goste de Matemática, ou apenas se interesse por ela. Como disse, muitas destas histórias são notícias da linha da frente; eu acabo um pouco por desempenhar o papel de repórter de guerra. Tal como não é preciso ser especialista em história militar para ter gosto em acompanhar as campanhas que se desenrolam no terreno, também com este livro não é indispensável saber muita Matemática para retirar grande proveito do livro. A única condição indispensável é a curiosidade intelectual.
Jorge Buescu com 4 matemáticos "Medalhas Fields"
A promoção da matemática de qualidade é um dos grandes objetivos deste livro?
Não tanto a promoção, mas a sua divulgação. É essa, de resto, uma das funções mais nobres da divulgação: pegar em actividades que decorrem muito longe da nossa esfera habitual de actuação e levá-las ao público em geral, transmitindo a razão da sua paixão. Se conseguir atingir esse objectivo ficarei muito satisfeito!
O trabalho que deu escrever esta obra e o prazer de o ver editado podem descrever-se ou é uma relação desconhecida?
O trabalho e o prazer vão sempre de mãos dadas… não é apenas ao ver a obra publicada que se tem uma sensação de realização. O próprio processo criativo, ao exigir pensar sobre a melhor forma de transmitir um conjunto de ideias ou uma narrativa, os melhores exemplos a fornecer, metáforas a escolher, imagens a dar… pode ser, e é, muito gratificante. O prazer não está apenas no ponto de chegada; muito dele está em percorrer o caminho. Tal e qual como na Matemática, afinal!
O livro pode ser adquirido aqui.