N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - Envelhecimento activo, preventivo, e saudável: porque envelhecer não tem de assustar

Eixos de Opinião de Outubro de 2021

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: Envelhecimento activo, preventivo, e saudável: porque envelhecer não tem de assustar

Entre os dias 7 e 9 de Outubro tive o prazer de participar numas jornadas sobre envelhecimento, organizadas pelo Algarve Biomedical Center da Universidade do Algarve. O tema deste ano foi o envelhecimento, um tema transversal e universal, que nos deve unir para que, juntos, possamos desenvolver estratégias que nos permitam envelhecer de forma mais saudável. 

Nos últimos 100 anos, assistimos a um grande aumento da longevidade, fruto de avanços no conhecimento científico e nas regras de higiene. Atingimos hoje em dia idades que pareciam impensáveis para a maioria da população. Mas deparamo-nos com desafios que, em alguns casos, nos pode fazer pensar se vale a pena viver tanto tempo. São pensamentos e opiniões individuais, que devemos respeitar. Mas, enquanto sociedade, devemos também tentar resolver os tais novos desafios que resultam do facto de vivermos mais tempo. 

Este é um tema sobre o qual muito se tem dito e escrito, mas está longe de estar resolvido. Se, por um lado, temos ainda muito a fazer para podermos tratar doenças graves associadas ao envelhecimento, como as doenças cardiovasculares, o cancro, ou as doenças neurodegenerativas, por outro temos também de ajustar regras e instituições para que as sociedades não colapsem pelo número elevado de pessoas que vai viver durante mais tempo.

Não vou resolver estas questões aqui neste texto, mas apenas enumerar algumas questões que me ocorrer e que gostaria de ver discutidas e pensadas, até por aquelas e aqueles que têm responsabilidades governativas, e que não se deveriam limitar apenas às legislaturas para as quais são eleitas/eleitos. Assim, preocupam-me questões como por exemplo:

1. Podemos manter um equilíbrio social numa sociedade envelhecida, com um número de jovens inferior ao número de pessoas mais velhas?
2. O que devemos fazer hoje para preparar a segurança social e os serviços de pensões e apoio social para que não colapsem e deixem de conseguir pagar as reformas a quem trabalhou durante os anos que lhes foram exigidos?
3. O que devemos fazer/mudar na investigação para sermos capaz de tratar as diversas doenças associadas ao envelhecimento?
4. O que podemos fazer, a nível familiar, para que as pessoas mais velhas se mantenham saudáveis até ao final da vida?

Precisamos de aprender a mudar a forma como vivemos, como interagimos com o planeta/ambiente, e como nos apoiamos uns aos outros. A alimentação, o exercício físico e o tipo de exercício físico, as interações sociais, são tudo aspectos que condicionam a forma como envelhecemos. Precisamos de saber como tomar as rédeas do envelhecimento nas nossas mãos, para que seja um envelhecimento activo e saudável. E muito disto faz-se pela prevenção, sendo que esta implica coragem. Porque prevenir não se faz só aos 60 ou 70 anos. Prevenir faz-se do momento em que nascemos.

Não seremos capazes de garantir a vida eterna (pelo menos nos tempos mais próximos...). Mas somos já hoje capazes de pensar e tentar garantir que envelhecer não tem de ser assustador, para que cada vez haja mais gente a sentir-se bem durante o envelhecimento.

Publicado/editado: 23/10/2021