N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - Estereótipos, xenofobia, e conflitos sociais: tudo o que não precisamos

Eixos de Opinião de Fevereiro de 2022

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: Estereótipos, xenofobia, e conflitos sociais: tudo o que não precisamos

Vivemos num tempo em que a informação corre depressa, e em que a desinformação parece por vezes chegar ainda primeiro. Muitas pessoas não conseguem distinguir o que é real do que é falso, e perpetuam ideias e posições que não tem por base o conhecimento. Mas os estereótipos não são algo novo sendo, provavelmente, inerentes à espécie humana e à nossa propensão a identificar padrões e a classificar o que observamos. Os estereótipos pecam por serem generalizações e, como tal, não podem ser aplicados a todas as pessoas.

Se alguns estereótipos são, aparentemente, inofensivos, como aqueles que classificam a personalidade ou costumes de países diferentes, outros há que rotulam pessoas, sociedades, ou costumes, e que estigmatizam, segregam, e levam a conflitos. 

No mundo global em que vivemos, e onde dependemos tanto uns dos outros, é importante sermos correctos e respeitadores. Assim, precisamos de estar conscientes dos estereótipos para os evitarmos.

Vivemos tempos em que discursos populistas apontam o dedo a pessoas, costumes, etnias, para explicarem, de forma leviana e estereotipada, problemas sociais que são na verdade bem mais profundos. Estes discursos assentam e acentuam extremismos que criam conflitos, segregação, e exclusão social. No limite, levam a guerras, como confirma a história. É triste que muitos não sejam capazes de perceber, ou não queiram perceber a irresponsabilidade dos seus discursos, e sigam caminhos que não são condizentes com aquilo que deveriam ser as sociedades do século XXI. 

Precisamos de sociedades tolerantes, mas há temas em que não podemos ser tolerantes. Nazismo, fascismo, e outros regimes ditatoriais não podem ser defendidos nem tolerados. Devem ser banidos e eliminados, para que não se repitam erros não tão distantes.

Tomei conhecimento de um caso de xenofobia em Portugal, contra uma jovem brasileira de 11 anos, ao ser agredida por colegas da sua escola. Infelizmente, agressões em escolas não são algo inédito. O que choca ainda mais neste caso, é o facto de a violência estar associada a insultos racistas e xenófobos, que mancham aquilo que é uma característica de Portugal, enquanto país de acolhimento e de encontro de culturas. Não queremos uma Europa branca! Queremos uma Europa acolhedora, onde pessoas de todos os cantos do mundo se possam sentir bem, protegidos, e em que possam prosperar. É isto que devemos ambicionar! 

Não podemos esquecer que já fomos um país de emigração, em que muitos dos nossos compatriotas procuraram acolhimento e vidas melhores noutros países. Devemos pensar no futuro, em como dependemos uns dos outros, e em como podemos, e devemos, ser exemplo no mundo global em que vivemos.
Xenofobia e conflitos sociais são tudo o que não precisamos.

Publicado/editado: 23/02/2022