N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - Invasão da Ucrânia: o mundo a assistir ‘do sofá’

Eixos de Opinião de Março de 2022

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: Invasão da Ucrânia: o mundo a assistir ‘do sofá’

Vivemos num tempo em que a informação corre depressa, e em que a desinformação parece por vezes chegar ainda primeiro. Muitas pessoas não conseguem distinguir o que é real do que é falso, e perpetuam ideias e posições que não tem por base o conhecimento. 

Foi com estas frases que “abri” o N(eur)ónios de Fevereiro. E com estas frases poderia ter aberto outros textos que escrevi sobre a COVID-19. Agora, uso-as para abrir este texto sobre a inacreditável invasão da Ucrânia. Não discuto sequer os motivos históricos de conflitos e disputas territoriais, nem sou ingénuo para achar que uns são maus e os outros são santos. O que me choca é que dirigentes de grandes potências mundiais, como a Rússia, usem informações falsas para justificar uma guerra terrível e totalmente dispensável. Uma guerra que destrói, uma guerra que mata, uma guerra que deixa marcas físicas e psicológicas, uma guerra que claramente não trará nada de bom para ninguém. Acentuará diferenças, mágoas, e ressentimentos.

Choca-me também que o resto do mundo, e em particular aqueles que foram sempre tão diligentes a defender os valores da democracia e da humanidade noutros conflitos bem menos trágicos, sejam obrigados a limitar-se a impor sanções económicas, e a fazerem ameaças veladas, sob pena de contribuírem para uma escalada da situação que tornaria o conflito global, e ainda mais descontrolado. É revoltante assistirmos à destruição de um país, à morte de gente inocente, de um lado e do outro, sem que se possa fazer muito mais... é triste perceber que um líder de um país, em pleno século XXI, consiga blindar o seu povo da realidade, justificando o injustificável, e conseguindo ainda algum apoio popular para um acto tão desprezível... 

Os líderes de outros países perdem credibilidade com o passar do tempo, com as ameaças inúteis... os russos mais poderosos não querem ou não conseguem, ainda não percebi, pressionar Putin a parar o conflito... e as pessoas vão morrendo, vão tendo as suas vidas destruídas, vão perdendo pessoas, bens, e a honra ou serem obrigadas a fugir, deixando para trás, muitas vezes, toda uma vida de trabalho e conquistas... 

Confesso que acho inconcebível que Putin tenha apoiantes fora do seu país. Desde outros líderes mundiais que, ou em silêncio, como a China, ou abertamente, como a Bielorrúsia, permitem a situação. Ficarmos calados é pouco, pois nada justifica o que se está a passar. 

O povo Ucraniano, e o seu líder, têm sido heróis, tentando lutar e resistir contra um inimigo que é inúmeras vezes mais poderoso. Isto ficará para a história. Mas devemos também ter o bom senso de perceber que o problema não está no povo Russo, que acredito ser, na sua grande maioria, contra estas atrocidades. O problema está nos líderes. Esses sim, têm de ser substituídos. A nós, que ainda estamos fora do conflito, resta-nos ir assistindo do sofá a mais um conflito no mundo, e ao desperdício da oportunidade de recuperar o mundo de dois anos difíceis de pandemia

 

Publicado/editado: 27/03/2022