N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - Um ano duro terminou, mas com esperança em 2021

Eixos de Opinião de Janeiro de 2021

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: Um ano duro terminou, mas com esperança em 2021

Recordo, como se fosse ontem, o final do ano de 2019. Um ano que terminou com uma notícia dura para a família, mas em que pudemos aproveitar o Natal e passagem de ano em família. Imaginava que 2020 viria a ser um ano difícil, numa luta que ameaçava ser desigual. Seria também um ano de muitas viagens, e com muitos planos. Chegou Fevereiro e, infelizmente, tive de interromper uma viagem que estava a apreciar, a NY e a Cuba, pois a situação de saúde da minha mãe tinha-se agravado muito. Começava já a ouvir-se falar da COVID-19, mas estava ainda longe, na China.

Em poucos dias, o mundo mudou, e o meu mundo abanou. A pandemia chegou à Europa, e a minha mãe piorava. A decisão foi simples – parei tudo, e fui para Portugal, para poder apoiar a minha mãe e a família. Foram dias duros. Muito duros. Mas a pandemia, a mesma que me estava a impedir de trabalhar e fazer as viagens que queria muito ter feito, estava a dar-me uma oportunidade única: estar ao lado da minha mãe nas suas últimas semanas.

Do resto do ano, para além da pandemia, sobram outras memórias. Os congressos virtuais, as reuniões online, a ausência de viagens... mas foi um ano de muito trabalho. As limitações foram oportunidades também, para estar mais em casa, para produzir mais, para estar mais perto do meu grupo de investigação que, há que reconhecer, sofre sempre um pouco quando me ausento, uma vez que não posso dar apoio tão directo, tão imediato. Acho que em 10 anos na Alemanha, nunca tinha estado tanto tempo sem viajar! 

Sem dúvida que nem tudo foi mau. Ficam também boas memórias de uns belos dias no Algarve, na praia. Sou, sem dúvida, uma pessoa do Verão, do sol, do calor, e poder ter aproveitado uns dias por lá foi muito bom!

Entre tudo isto, o tempo voou, e o ano terminou. Terminou com outras memórias tristes... 2020 levou também um tio, com a mesma doença que levou a minha mãe... 

Apesar de algumas situações menos boas, procuro guardar as melhores. E houve várias. E procuro ter esperança em 2021, agora que existem vacinas para começarmos a lutar, olhos nos olhos, contra a pandemia.

Faço votos para que 2021 seja um ano em que saibamos ser pacientes com as restrições que, infelizmente, se agravaram, e que continuaremos a viver, mas em que possamos ir retomando actividades sociais que são tão importantes, e que poderão permitir uma retoma económica para todos aqueles, e são tantos, que têm sofrido o impacto da pandemia. 

A nível internacional, espera-se que 2021 seja um ano de mudança de comportamentos e dinâmicas, para um padrão mais são, mais normal, mais humano, e que cuide dos que precisam mais, promovendo sempre a educação, o mais precioso bem que a sociedade nos pode dar – com ela mudamos e damos novos mundos ao mundo!

 

Publicado/editado: 23/01/2021