N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - Vacinação para a COVID-19: quando a liberdade de uns afecta a saúde de outros

Eixos de Opinião de Dezembro de 2021

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: Vacinação para a COVID-19: quando a liberdade de uns afecta a saúde de outros

Estamos todos cansados de falar e ouvir falar da pandemia... da contagem diária de casos, das pessoas que são hospitalizadas e precisam de cuidados intensivos, do número de pessoas que morrem diariamente... mas temos ainda muitas questões para resolver.

A ciência, fruto de uma mobilização internacional sem precedentes, deu a resposta que todos desejavam: foi capaz de produzir vacinas eficazes e seguras. Para uns, que não entendem de ciência, “foi rápido demais”... como se entendessem o que está em causa no desenvolvimento de uma vacina para um agente definido como é o caso deste vírus (SARS-CoV-2). Para outros, adeptos de teorias da conspiração, são as grandes corporações, e até o Bill Gates (pasme-se!), a querem controlar a liberdade do povo, de cada um de nós. No meio de muito disparate, a vacinação avançou e foi protegendo as pessoas e as sociedades. 

Lamentavelmente, a vacinação não tem sido equitativa, sendo que os países mais ricos foram claramente favorecidos no acesso às vacinas, enquanto os mais pobres continuam com taxas de vacinação demasiado baixas e preocupantes, permitindo o surgimento de novas variantes que, para além de “calafrios”, podem mesmo causar novos problemas, mesmo para os países ricos em que a taxa de vacinação é mais elevada.

Mas este texto não é para falar desses problemas. O que quero aqui assinalar é que aqueles que defendem afincadamente a sua liberdade são, na verdade, os mais egoístas. São incapazes de compreender que a vacinação não é apenas para os proteger a si próprios mas, muito mais do que isso, para proteger a sociedade. E é uma protecção que não se limita à COVID-19 – é uma protecção que ajuda a reduzir (não elimina, é verdade!) o risco de doença grave e que pode requerer cuidados hospitalares, entupindo os hospitais e sistemas de saúde. Este sim, é o problema que países com taxas mais baixas de vacinação vivem, e que todos devemos evitar. É que hospitais cheios de doentes COVID impedem o normal funcionamento dos hospitais, sobrecarregando médicos e recursos que já são, não raras vezes, limitados. Impedem o rastreio de doenças oncológicas. Impedem o normal tratamento de doenças crónicas. Agravam problemas de saúde mental. Impedem o acesso a tratamentos diversos. Afectam o descanso dos profissionais que sempre se mostraram resilientes e dedicados. 

Temos de aprender a viver com este vírus, como aprendemos a viver com outros no passado, como aprenderemos no futuro. Mas devemos usar as armas que temos ao nosso dispor no sentido de minimizar o impacto nas sociedades. A vacinação, o uso de máscara, distanciamento social e cuidados de higiene funcionam! Disto não há dúvida! 

Se queremos ter Natal e outras celebrações como as conhecíamos antes da pandemia, devemos então usar as armas que vamos tendo e que estão validadas cientificamente, que salvam vidas da COVID-19, e de muitas outras doenças.

A consequência da “liberdade” individual para escolher ser vacinado ou não vai sobrecarregar as sociedades por períodos que não somos ainda capazes de avaliar mas que, certamente, irá levar anos a ultrapassar. 

 

Publicado/editado: 23/12/2021