Se e Só Se por José Carlos Pereira - Perplexidades

Eixos de Opinião de Abril de 2021

José Carlos Pereira - Professor de Matemática. Autor de Livros Escolares. Responsável pelo Site Recursos para Matemática e Autor do Canal no Youtube – MathSuccess Fátima (Ler +)


Título: Perplexidades

O ano-lectivo passado não foi normal. Este ano não está a ser normal. Os alunos do Secundário estão em casa desde meados de Janeiro e continuarão em casa até meados de Abril. Três meses de aulas online com as dificuldades e desigualdades que todos conhecemos. 

Tem sido mais um ano de ansiedade e de esforço por parte de professores e alunos e esperávamos que nos Exames Nacionais não houvesse alterações relevantes em relação ao último ano. Até ser publicado este ofício, não se esperava nada muito diferente. É verdade, por exemplo, que ainda não foi divulgado o número de itens obrigatórios em cada exame, nem a forma como serão identificados na prova. Estas são informações importantes que tardam em ser reveladas. O que sabemos pode ser lido aqui

Neste documento pode ler-se que durante as provas dos Exames Nacionais de Matemática (A, B e MACS) de 2021, todas as máquinas de calcular terão de estar em Modo Exame e justificam esta alteração com a possibilidade de instalar a funcionalidade CAS (cálculo simbólico), proibida em contexto de exame, em calculadoras que à partida não a tinham, criando, segundo o Júri Nacional de Exames (JNE), uma situação de desigualdade. 

Para que fique claro, estou absolutamente contra esta medida e justifico a minha posição nos três parágrafos seguintes.

Parece-me de elementar bom senso que a meio de um processo não se mudem as regras. É precisamente isto que se está a fazer, mudar as regras de realização de uma prova de Exame, a três meses da mesma. Durante a prova os alunos não poderão utilizar todas as potencialidades da calculadora, algo que estavam habituados a fazer até aqui, dado que nada fazia prever esta mudança. Com isto irão, inevitavelmente, aumentar os níveis de ansiedade e de stress num momento importante e decisivo na sua vida, ainda mais neste ano, com a conjectura que todos conhecemos, e em que as classificações dos exames só contarão para o acesso ao Ensino Superior. 

Com esta medida iremos prejudicar os alunos honestos, que usam as calculadoras de forma legítima e que constituem a esmagadora maioria dos alunos que realizam estas provas. Parece-me uma injustiça que por culpa de alguns prevaricadores, que conseguiam contornar as regras, e nada nos diz que com esta imposição não arranjem maneiras de o continuar a fazer, se “punam” todos de igual forma.  

Para agravar esta situação, acrescenta-se mais um elemento de injustiça: aos alunos que não possuam máquinas com a funcionalidade Modo Exame, deverá ser apagada toda a memória da calculadora antes de se iniciar a prova. Isto fará com que estes alunos fiquem em clara desvantagem em relação a outros com máquinas mais recentes, que mesmo com com o Modo Exame activado não vêm algumas funções inibidas, como por exemplo, a determinação de soluções de equações polinomiais, nomeadamente do segundo grau.

Não tenho qualquer tipo de esperança quanto à reversão desta medida, mas, para reforçar, estou totalmente contra. Não me parece que este ofício garanta algum tipo de equidade. Não me parece que o facto de haver alunos, muito poucos, que não cumpram as regras justifique esta alteração ou que ela os impeça de continuar a não cumprir. Parece-me, sim, que cria novas injustiças fazendo “o justo pagar pelo pecador”. 

Finalmente, gostaria que o JNE clarificasse a expressão “só para MACS” que se encontra na lista exemplificativa (mas não exaustiva) de calculadoras que podem ser usadas nas diferentes provas de exames. Essas calculadoras só podem ser usadas no exame de MACS? Se sim, por que razão não podem ser usadas nos exames de Matemática A ou B?   

 

 

Publicado/editado: 03/04/2021