Vida & Obra de Lord Rayleigh

John William Strutt (Lord Rayleigh) foi um físico e matemático inglês. 

Aos trinta anos, com a morte do seu pai, Strutt assumiu o título de terceiro Barão Rayleigh de Terling Place. Uma carreira científica não era realmente aceitável para Rayleigh, mas Rayleigh entendeu que as suas obrigações sociais não deveriam atrapalhar o seu caminho e devotou a sua vida à ciência. 

Quando Rayleigh entrou no Trinity College, Cambridge, em 1861, contactou com Edward Routh, que na altura era um matemático inglês conhecido por preparar os alunos para o exame Tripos de matemática, da Universidade de Cambridge. Não há dúvida de que a base matemática que Rayleigh obteve de Routh foi uma influência importante na sua notável carreira científica. Aprendeu com Routh como encontrar os métodos matemáticos mais apropriados para resolver cada problema.

Rayleigh também sofreu uma importante influência de Stokes durante os anos em que esteve em Cambridge. Stokes era o professor lucasiano de matemática na época. Stokes inspirou Rayleigh com as suas aulas onde combinava teoria e prática de uma maneira nova - com muitas experiências físicas. Rayleigh, mais tarde, falou sobre a importância do papel que Stokes desempenhou no seu desenvolvimento como cientista. 

Era habitual nos jovens britânicos de posição social daquela época fazer um tour europeu - o grand tour, como era chamado. Rayleigh, surpreendentemente, fez uma tour muito diferente, e para aquela época incomum, pois partiu para uma viagem aos Estados Unidos. Uma vantagem da posição social privilegiada de Rayleigh era que não precisava de um cargo académico para ganhar a vida. Em vez disso, quando voltou dos Estados Unidos, comprou equipamento para realizar experiências científicas e instalou-o na propriedade da família em Terling.

Rayleigh casou-se em 1871 e pouco depois teve um ataque de febre reumática que quase encerrou prematuramente as suas atividades científicas. Foi aconselhado a viajar para o Egito; esta viagem foi benéfica porque além de ter recuperado a sua saúde também foi muito lucrativa do ponto de vista científico. De maneira bastante notável, começou a escrever um texto importante, The Theory of Sound, durante a viagem. Passaram-se cinco anos após o início deste grande clássico antes que ele fosse publicado. O primeiro volume, sobre a mecânica de um meio vibratório que produz som, foi publicado em 1877, enquanto que o segundo volume sobre a propagação de ondas acústicas foi publicado no ano seguinte.

Pouco depois de retornar da sua viagem pelo Nilo, o pai de Rayleigh morreu e Strutt tornou-se o terceiro Barão Rayleigh. Continuou a trabalhar no laboratório que tinha montado em Terling, onde fixou residência. A década de 1870 foi uma época de problemas económicos para a agricultura na Inglaterra e, como consequência, Rayleigh resolveu aceitar o cargo de professor de física experimental (entre 1879 e 1884) em Cambridge; substituiu Maxwell e fez melhorias substanciais no ensino da física. Com a mesma energia com que abordou tudo, Rayleigh, durante o seu período em Cambridge, desenvolveu cursos de laboratório em eletricidade, magnetismo, calor, propriedades da matéria, óptica e acústica.

Em 1884, renunciou à cadeira em Cambridge para voltar à pesquisa na sua propriedade em Terling. O que ele queria mesmo era fazer pesquisa científica, sem as responsabilidades de um cargo universitário. Houve muitos colegas que tentaram dissuadi-lo, mas Rayleigh sabia exatamente o que ele queria da vida. A sua existência científica em Terling não foi solitária, já que fazia visitas frequentes a Londres, onde tinha deveres a cumprir em muitas sociedades eruditas e científicas, além de que se correspondia com muitos dos principais cientistas. 

Rayleigh teve importantes contribuições para a ciência, entre as quais, na hidrodinâmica, no seu trabalho sobre fenómenos eletromagnéticos, no seu principal tratado sobre o som, na determinação do ohm e no seu importante artigo sobre a dispersão da luz onde explica a razão do céu ser azul, mas é mais conhecido pelas suas pesquisas em fenómenos ondulatórios e pelas suas pesquisas sobre a densidade dos gases mais importantes e a descoberta do gás inerte árgon (em 1895) resultante dessas pesquisas. Pelo seu trabalho e resultante descoberta deste gás foi-lhe atribuído o Prémio Nobel de Física em 1904.

Rayleigh trabalhou também numa incrível variedade de tópicos em matemática e física aplicadas. Entre as publicações dedicadas à matemática, estão artigos sobre as funções de Bessel, a relação entre as funções de Laplace e as funções de Bessel e as funções de Legendre.

Rayleigh recebeu muitas homenagens pelo seu trabalho científico. Em 1902, na coroação do Rei Eduardo VII, recebeu a Ordem de Mérito. Além do Prémio Nobel, recebeu treze títulos honorários, algumas medalhas e prémios e foi membro honorário de cinco sociedades eruditas em todo o mundo.

Destaca-se que Rayleigh foi eleito membro da Royal Society em 1873. Tornou-se secretário desta sociedade em 1885 e presidente em 1905, ocupando o cargo até 1908. Foi agraciado pela Royal Society com a Medalha Real em 1882 e a Medalha Copley em 1899. Rayleigh também foi presidente da London Mathematical Society em 1876-78 e foi premiado com a Medalha De Morgan por esta sociedade em 1890. Tornou-se chanceler da Universidade de Cambridge em 1908.

Outras atividades que merecem destaque envolvem o trabalho que desenvolveu para ajudar a estabelecer o National Physical Laboratory que foi criado em Teddington, Middlesex, em 1900.

Rayleigh era um homem modesto e generoso. Doou os lucros do seu Prémio Nobel à Universidade de Cambridge para construir uma extensão dos laboratórios Cavendish. Ao receber a Ordem de Mérito em 1902, disse: 

“... the only merit of which I personally am conscious was that of having pleased myself by my studies, and any results that may be due to my researches were owing to the fact that it has been a pleasure for me to become a physicist.”

Fonte: https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Rayleigh/

Por Adília Marinho