Coordenadas por Margarida Bagão Félix

Eixos de Opinião setembro 2013

               


Qual é o nosso lugar na sociedade? Qual o rumo que devemos seguir e qual o sentido a dar à nossa vida? Muitas vezes descobrimos sozinhos, outras vezes precisamos de uma orientação, de “coordenadas” que nos ajudem a definir o nosso percurso. 

Tal como a matemática que tanta vezes nos ajuda a encontrar uma solução, a psicologia da educação orienta-nos para respostas mais adaptativas e diferenciadas.               

Margarida Bagão Félix - Psicóloga Educacional             


Coordenadas por Margarida Bagão Félix

Artigo de setembro de  2013

Clube de Matemática SPM

Facebook Clube SPM


Título: Às vezes é difícil gostar da escola...

“Não gosto da escola, a escola é uma seca, acabo sempre antes dos outros meninos e depois não tenho nada para fazer e ainda por cima a professora só implica comigo e diz que eu me porto mal!” 

Pode parecer estranho mas estes são alguns pensamentos e testemunhos frequentes de crianças sobredotadas, ou seja, de crianças com capacidades muito acima da média (com um QI superior a 130, quando o da média da população ronda os 100).

Difícil é também acreditar que estas crianças muitas vezes apresentam maus resultados escolares. Mas então quem diria? Se são sobredotados não é presumível que saibam praticamente tudo e que sejam os melhores da turma? Muitas das vezes os professores deparam-se com esta dificuldade e não acreditam no psicólogo quando este lhes diz que o seu aluno é sobredotado. E talvez esta descrença tenha algum significado, talvez tenham razão... afinal não são eles que passam a maior parte do tempo com as crianças e que as observam diariamente? É mesmo frequente assegurarem que aquele aluno é tudo menos sobredotado! “Se é agressivo, mal educado e desmotivado, é impossível que seja...”!  Mas então o que escondem estas crianças? Porque esconderão os seus talentos?

Porque simplesmente estão saturados... saturados de ouvir matérias que já dominam, saturados de não terem amigos com os mesmos interesses, saturados de escreverem o “a, b, c” quando já sabem escrever palavras inteiras e ler um texto! Ora, como ficam aborrecidos distraem os colegas, desmotivam e fazem muitas vezes tudo para chamarem a atenção quando apenas o que queriam era simplesmente aprender algo de novo!

É claro que pode ser um impacto brutal para professores e pais entenderem que aquela criança tem muito mais potencial do que aquilo que aparenta. 
Quando o ritmo do programa é demasiado lento para o aluno há que ajustar as opções, e determinar certas estratégias que o ajudem a desenvolver as suas capacidades. Realizar um desenho, ler um livro, fazer outro exercício de matemática enquanto espera pelos colegas, ir fazer algum recado a pedido da professora ou explicar algum conceito novo em frente à turma são alguns dos exemplos. É claro que ninguém melhor que o professor, que conhece bem o seu aluno, para ir experimentando o que melhor se aplicará. Pois cada caso é um caso... 

É imperativo ajudar estas crianças e dar-lhes coordenadas que as guiem para um percurso pessoal e académico mais positivo. Não as podemos pôr de lado só por serem incrivelmente mais inteligentes pois obviamente não são infalíveis e têm carências e pontos fracos como todas as outras.

Em Portugal, em 2011, estimou-se que três a cinco por cento das crianças e dos jovens portugueses seriam sobredotados, ou seja, mais de 60 mil.

Contudo, debatemo-nos aqui com um dilema: Se seguirmos o raciocíonio acima, quantas crianças sobredotadas estarão “ocultas” nas salas de aulas e quantas delas ficarão por desenvolver o seu potencial máximo? 





Publicado/editado: 19/09/2013