Entrevista a Marcos Freitas – Jogador Profissional de Ténis de Mesa

Clube Entrevista de Fevereiro de 2019

Marcos Freitas, profissional de ténis de mesa é o melhor jogador português de sempre desta modalidade e um dos melhores da Europa (4º) e do Mundo (16º). Natural da Ilha da Madeira, foi aí que iniciou as primeiras jogadas que viriam a fazer dele um atleta de eleição. Bom aluno, poderia vir a ser médico ou engenheiro como o seu irmão gémeo, mas preferiu pôr as raquetes na mesa e abraçar a modalidade. Para o clube spm é um privilégio ter um desportista desta dimensão, numa conversa onde demonstra toda a sua hulmidade, foco, querer, ambição, respeito que vai até si nesta "troca de bola"...por outras palavras esta entrevista é um Marco (histórico)... Freitas.

Como foi a sua infância?
Foi uma infância normal. Sempre tive ligado ao desporto. Fazia muito desporto na escola. Sempre joguei muitos desportos. Houve uma altura em que pratiquei três desportos ao mesmo tempo: judo e futebol na escola e o ténis de mesa, no clube. Tentei durante algum tempo conciliar os três, mas como tinha muitos amigos que jogavam ténis de mesa, a opção foi simples. Escolhi o ténis de mesa.

Aos oito anos iniciou o ténis de mesa?
Sim, com 8 anos. 

E a escola foi na Ilha da Madeira, no Estreito de Câmara de Lobos...
Sim, fiz a escolaridade normal até ao 12º ano até entrar na faculdade. Nessa altura tive de optar e fui jogar para a Alemanha.

Como percebeu que iria ser um jogador de ténis profissional e um dos melhores do mundo?
Só percebi quando tinha 17 ou 18 anos. Em Portugal nunca tivemos jogadores profissionais. Jogadores que jogassem fora do país, noutras ligas mais fortes. Era uma área desconhecida para todos. Sempre fui muito bom nos infantis,  iniciados, cadetes e juniores, no fundo até aos 18 anos. Mas só após ter sido campeão da Europa em juniores é que percebi que podia ser profissional. Nessa altura recebi diversos convites das ligas mais fortes da Europa. Aí percebi que podia me tornar profissional e sonhar com uma carreira no ténis de mesa. Até essa altura, era uma área desconhecida para todos. Só quando fui campeão da Europa, é que se abriram as portas.

Aos 17 ou 18 anos deu uma entrevista a uma televisão em que se percebia a ambição de se tornar um dos melhores entre os melhores. Lembra-se?
Não me lembro. Sempre em que meto em alguma coisa gosto de ser o melhor. Seja no ténis de mesa, em religião e moral, na matemática, em qualquer área, bilhar ou matraquilhos, dou sempre o melhor. 

Tem um irmão gémeo. Ele também joga ténis de mesa?
Jogou até aos 12 anos. Depois escolheu uma outra área. Agora é engenheiro informático. 

Tem ideia quantas horas treina por dia?
Muitas horas.

Ser esquerdino é uma vantagem ou uma desvantagem no ténis de mesa?
Na minha opinião não existe nem vantagem nem desvantagem. O jogo é igual para os dois. Todos têm uma raquete e uma bola. Mas não. A nível amador pode acontecer, uma vez que existem mais destros do que esquerdinos.  Quando aparece um esquerdino, é tudo ao contrário. Porque não estão habituados. A nível profissional não há vantagem nenhuma.

O Marcos Freitas está no 16º lugar no ranking mundial e é o 4º da Europa e o melhor em Portugal. Como se chega a este patamar?
Não é do momento para o outro. O ténis de mesa é um desporto, uma modalidade muito técnica, por isso é impossível um atleta atingir um patamar elevado de um momento para outro. É preciso muito trabalho. Desde os infantis, iniciados, juvenis, juniores e seniores, que me habituei a trabalhar muito, tenho uma carreira muito longa, de muito trabalho diário, sempre devagarinho, degrau a degrau e a treinar muito. Saí de Portugal, trabalhei fora do país nas melhores ligas europeias. Contínuo a jogar num clube russo. Muito trabalho. Muita ajuda de muitos treinadores que passaram ao longo da minha carreira. Os colegas de treino. A família, em, particular os meus pais que me ajudaram muito. Tudo junto, fizeram com que eu pudesse ser profissional. Neste momento acordo e só penso no ténis de mesa. 

O seu pensamento está 24 horas por dia com o ténis de mesa...
Desde que acordo, preparo-me da melhor maneira para evoluir mais um pouco, todos os dias, de forma a conseguir ganhar mais um ponto, mais um jogo, com o objetivo de ser melhor todos os dias. Em síntese, para subir mais um pouco no ranking. Aproveito para agradecer a todas as pessoas que me ajudaram a ser o jogador que sou hoje.

Tem contrato com o clube russo do Orenburg. Onde treina? Em Portugal?
Eu não treino em Portugal. Treino um pouco por todo o mundo. Venho cá algumas vezes. Nós temos o centro da seleção. Não vivo em Portugal. No ténis de mesa é muito importante o parceiro com que se treina. É muito importante ter um parceiro com que se treina que seja muito forte. Só assim se consegue manter o nosso nível e evoluir. 

Mas tem parceiros por toda a Europa?
Sim. Se tiver que ir para a Alemanha uma semana, eu vou. Se tiver para a China um mês, eu vou. A minha vida é assim. Treinar o melhor possível para as provas. Por isso, eu ando sempre de um lado para o outro. 

Os seus pais sempre o apoiaram por esta opção profissional pelo ténis de mesa?
Sim. Os meus pais sempre me apoiaram. O meu pai sempre jogou ténis de mesa, durante algum tempo como amador, nunca foi federado. Ele gostava muito do desporto e sempre me apoiou. É óbvio que quando consegui bons resultados o apoio deles foi aumentando. Eles verificaram que podia chegar longe e assim tornou-se mais fácil. Como obtive bons resultados, tive de optar entre ir para a universidade ou ir para a Alemanha jogar ténis de mesa. No meu caso foi fácil. No meu caso, tinha acabado de ser campeão da Europa, tinha muito potencial, muitas pessoas me apoiaram porque acreditaram em mim. Logo, foi mais fácil para os meus pais me apoiarem.

Existe um centro de treinos de Gaia. Quer falar-nos desse espaço...
É um centro de treinos em que estão presentes os melhores treinadores e jogadores da modalidade. Não estou cá a tempo inteiro, mas passo cá muitas vezes, muitas vezes em estágio. Temos muitos atletas, que não são portugueses, mas que visitam Portugal, com o único objetivo de treinar connosco. O que mostra o nível da nossa academia, do nosso centro de treinos. Temos atletas chineses, um atleta francês, dois argentinos entre outros. Temos um grupos de atletas de 500 jogadores, muito forte.  Na nossa modalidade é muito difícil encontrar melhores condições na Europa do que aquelas que temos em Gaia, na nossa academia.

Quais os objetivos para o futuro?
Os objetivos são sempre os mesmos. Ir evoluindo de dia para dia. Tentar melhorar os meus pontos menos fortes. Continuar a melhorar no ranking. Tentar ganhar medalhas no mundial e nos jogos olímpicos de 2020. Esse é o grande sonho, o grande objetivo. Continuar a evoluir. Pensar em ganhar um torneio ou outro, pode acontecer. Estou apenas focado em evoluir o meu jogo. Para ser sempre melhor.

Por Carlos Marinho

Publicado/editado: 01/02/2019